"Sim, é um desafio o facto de as eleições serem tão tardias", admitiu Roberta Metsola, numa entrevista à Agência Lusa e outras agências de notícias europeias, em Bruxelas, a propósito do projeto European Newsroom (Redação Europeia), do qual a Lusa é membro observador.
A líder da assembleia europeia recordou que esta foi a data escolhida devido à realização de eleições locais e nacionais noutros países noutros fins de semana alternativos, mas reconheceu que o facto de as Europeias serem em junho "coloca enormes problemas não só ao país [Portugal], mas a muitos países onde as férias escolares já terão começado, por exemplo, e também nos países do sul, onde já é bastante quente para ter eleições nessa altura".
"A data é o que é e sei que em Portugal a discussão está a decorrer (...) para se poder votar antes ou então que se possa votar também a partir da casa de férias e penso que isso ajudará", acrescentou.
Porém, de acordo com Roberta Metsola, "a afluência às urnas depende do tipo de campanha que se fizer e da forma como se consegue cativar os eleitores sobre a importância da Europa", após crises como a pandémica (covid-19), a energética e a relacionada com a guerra na Ucrânia, assuntos que "não se podem resolver de forma isolada, ao nível nacional".
"Como traduzir o que acabei de dizer em algo que hoje em dia convença um cidadão que geralmente não se interessa por política a ir votar é o nosso trabalho, a nossa responsabilidade", salientou.
Salvaguardando que um eventual "absentismo não significa necessariamente que os extremistas irão ganhar" ou ter mais peso na próxima legislatura do Parlamento Europeu, Roberta Metsola defendeu ainda assim que "se deve atuar" para evitar extremismos.
"Fizemos melhor quando ignorámos o risco de crescimento dos votos extremistas ou será que conseguimos recuperar terreno quando contrariámos a sua narrativa? Estou convencida de que a segunda é a forma como se deve agir para compreender cidadãos frustrados, que se sentem marginalizados, que se sentem ignorados pelos principais partidos", frisou.
Relativamente à futura configuração do hemiciclo, Roberta Metsola admitiu que "as delegações estão a ficar cada vez mais fragmentadas", com cada vez mais grupos políticos.
Por maioria, os Estados-membros da UE decidiram fixar o período de 06 a 09 de junho de 2024 para o escrutínio para a assembleia europeia, apesar da oposição de Portugal à data predefinida.
Em resposta, o Governo português assegurou que iria intensificar o voto em mobilidade e defendeu mudanças no regime que determina as datas para as eleições europeias.
O Dia 10 de junho é feriado nacional, assinalando-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, e o dia 13 de junho é feriado em Lisboa, pelo que o executivo teme uma menor afluência às urnas e tentou alterar a data, sem sucesso.
As duas últimas eleições europeias, em 2019 e 2014, realizaram-se no final de maio.
O procedimento para determinar as datas das eleições para o Parlamento Europeu foi estabelecido pelo ato de 1976, que prevê que cabe ao Conselho, deliberando por unanimidade e após consulta ao Parlamento Europeu, fixar o período eleitoral.
Este período tem por base o primeiro sufrágio universal, realizado entre 07 a 10 de junho de 1979, sendo que, desde aí, as eleições se têm vindo a realizar no período correspondente ou alternativo, entre uma quinta-feira e um domingo.
Já falando na entrevista sobre a futura composição das instituições europeias pós-eleições de 2024, Roberta Metsola adiantou esperar que a transição para os diferentes papéis de liderança "seja desempenhada de forma harmoniosa, para que não haja qualquer problema".
Questionada sobre o desempenho de Ursula von der Leyen à frente da Comissão Europeia desde final de 2019, a líder do Parlamento Europeu destacou o seu "ótimo trabalho", num mandato "que não foi fácil" devido às várias crises.
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