"Os coreanos mais radicais apoiam o armamento nuclear nacional, mas o nosso Governo não está disposto a assumir isso como política oficial", afirmou hoje à Lusa o diretor do Instituto para a Paz e Democracia da Universidade da Coreia e professor de Ciência Política e Relações Internacionais, em declarações feitas à margem do Fórum Mundial sobre a Coreia, evento realizado em conjunto com o Centro de Geopolítica da Universidade de Cambridge, Inglaterra.
O evento, organizado pelo Ministério da Reunificação coreano e ao qual a Lusa teve acesso, reúne anualmente académicos, representantes de governos e organizações da sociedade civil e especialistas para discutir questões como os direitos humanos, diplomacia e política.
A desnuclearização da Coreia do Norte foi um dos temas mais debatidos, com intervenientes divididos sobre o poder de dissuasão que armas nucleares podem ter sobre o regime de Pyongyang.
Em abril, os Presidentes norte-americano, Joe Biden, e sul-coreano, Yoon Suk-yeol, assinaram uma declaração na qual Washington reiterou o "compromisso de dissuasão alargada" das armas nucleares dos Estados Unidos para proteger a Coreia do Sul.
O acordo incluiu o reforço da visibilidade de meios militares na Península da Coreia, nomeadamente o envio de um submarino de mísseis balísticos nucleares norte-americanos, bem como exercícios militares conjuntos.
"Neste momento, muitos coreanos e o nosso Governo concordam na estratégia de tornar mais credível a dissuasão alargada. A declaração de Washington é um passo muito importante para atingir esse objetivo", afirmou Lee à Lusa.
Porém, admitiu que "se houver a perceção de que a dissuasão alargada não é suficiente", a opinião pública poderá aumentar a pressão para exigir uma política mais agressiva.
"Mas é muito difícil imaginar o Governo sul-coreano a recorrer à força contra a Coreia do Norte para acabar com o seu programa nuclear", vincou.
Além da relutância de Seul, Dong Sun Lee afirmou que "muitos coreanos acreditam que, se a Coreia do Sul desenvolver as suas próprias armas nucleares, poderá perder a valiosa aliança com os Estados Unidos, porque os Estados Unidos são contra a proliferação nuclear".
As tensões na Península Coreana atingiram o nível mais elevado dos últimos anos, com Pyongyang a testar mais de 100 mísseis desde o início de 2022, e os Estados Unidos, em retaliação, a reforçarem os exercícios militares com os aliados asiáticos.
No ano passado, a assembleia norte-coreana aprovou uma nova doutrina nuclear que autoriza ataques nucleares se a liderança da Coreia do Norte estiver sob ameaça.
Este ano celebra-se o 70.º aniversário do armistício da Guerra da Coreia (1950-1953), desencadeada pela invasão da Coreia do Sul por tropas da Coreia do Norte.
As duas Coreias nunca assinaram um tratado de paz, pelo que continuam tecnicamente em guerra.
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