Países endividados devem ter "almofadas financeiras" para futuros choques

O FMI prevê que a dívida pública na zona euro regresse nos próximos cinco anos a níveis próximos dos registados no pré-pandemia e defende que os países devem ter almofadas financeiras para choques futuros.

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Lusa
11/10/2023 10:49 ‧ 11/10/2023 por Lusa

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Em entrevista à Lusa, o vice-diretor do departamento de assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ruud De Mooij, assinalou que o rácio da dívida pública na zona euro ainda se fixa acima do registado antes da pandemia, mas acredita que a trajetória de redução irá continuar.

O FMI prevê que o rácio da dívida pública na média dos países da moeda única se situe em 89,6% este ano e em 88,3% em 2024.

"Voltaremos mais ou menos aos níveis anteriores à pandemia nos próximos cinco anos", disse, salientando que o défice na zona euro é atualmente de 3,4%, mas também se prevê que diminua ligeiramente ao longo do tempo.

O vice-diretor do departamento liderado por Vítor Gaspar destaca, contudo, "as grandes diferenças dentro da zona euro", já que "alguns países têm rácios de dívida [pública] de 30% ou 40%, mas também há vários países que têm rácios de dívida acima de 100%".

A par da zona euro também a média global de endividamento público disparou durante a pandemia e ainda não regressou aos anteriores níveis.

Contudo, dá nota que este cenário é bastante influenciado pela dívida pública dos Estados Unidos e da China.

"Os EUA têm um rácio dívida/PIB este ano de 123% do PIB e prevê-se que aumente 14 pontos percentuais na projeção e para a China temos um rácio dívida/PIB de 83% e prevê-se que suba para 104% do PIB, ou seja, 21 pontos percentuais. Portanto, estes dois países têm um peso muito forte nestas médias", disse.

O responsável do FMI exemplifica que caso se retire os Estados Unidos da equação e se levar em conta apenas as outras economias avançadas regista-se uma "pequena diminuição no rácio da dívida de 103% para 100%".

Uma diminuição que também se regista caso se retire a China dos mercados emergentes.

"Para os outros mercados emergentes, é mais ou menos constante, passa de 56% para 57% e nos países de rendimento mais baixo vemos uma diminuição ainda maior de 48% para 42%. Então, o quadro para o resto do mundo, fora os Estados Unidos e a China, é que há, em média, uma pequena diminuição no rácio da dívida em pontos percentuais", apontou.

O vice-diretor do departamento de assuntos orçamentais do FMI salientou ainda que para os países com níveis elevados de dívida pública na zona euro é "ainda mais importante reconstruir as suas almofadas financeiras, a fim de estarem prontos para o potencial próximo choque".

Ruud De Mooij sublinhou a importância do equilíbrio entre a política orçamental e a política monetária, para que a primeira não anule os efeitos da segunda, e mostrou-se em linha com o que tem defendido a presidente do Banco Central Europeu (BCE).

"A política orçamental não deveria ir noutra outra direção. Não deveria ser uma política orçamental generosa que aumentasse a procura agregada e depois aumentasse a inflação", referiu, acrescentando que "o que muitas pessoas dizem é que não devemos reduzir a taxa de juros muito rapidamente, porque a luta contra a inflação ainda não terminou e se o fizermos prematuramente, pode haver um risco de a inflação subir novamente".

Ainda assim, admitiu que a política orçamental "tem uma série de outros desafios para enfrentar", como "a reconstrução de reservas, estar pronto para o próximo choque, mas também estar pronto para os desafios de longo prazo relacionados com o envelhecimento, o clima, entre outros".

Defende assim que a transição climática deve ser uma prioridade para os governos, porque "o tempo está a esgotar-se para tomar medidas ousadas para combater as alterações climáticas".

"Os governos deveriam realmente estar na liderança na gestão desta transição climática, mas isso não significa que tenham de pagar por tudo. Muitos destes investimentos terão de ser pagos pelo setor privado", defendeu.

Segundo o responsável do FMI, "as famílias têm de pagar pelos seus novos veículos elétricos e as empresas de energia têm de pagar pela eletricidade renovável para estes investimentos em energia solar e eólica".

"Se extrapolarmos as políticas atuais onde há muitos fundos governamentais investidos nisto, então a dívida aumentaria tanto que se tornaria insustentável. Portanto, precisamos realmente que o setor privado também intensifique [os investimentos] e que o setor público se certifique de ter os incentivos certos para isso", argumentou.

O FMI considera ainda que "os governos devem ter uma combinação abrangente de políticas em que a fixação do preço do carbono seja uma peça central" e que os preços sejam definidos corretamente, assim como políticas complementares.

"Os governos precisam de compensar as famílias vulneráveis pelas implicações da fixação do preço do carbono", disse.

Leia Também: FMI mais pessimista que Governo prevê défice português de 0,2% este ano

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