Israel. Hezbollah e israelitas frente a frente numa fronteira "volátil"
A "volátil" fronteira entre Líbano e Israel tornou-se nos últimos dias palco de duelos de artilharia pesada entre forças israelitas e o grupo xiita apoiado pelo Irão, Hezbollah.
© BASHAR TALEB/AFP via Getty Images
Mundo Israel/Palestina
Os dois países trocaram acusações de invasão nos confrontos na segunda-feira, o que levou a um dos dias mais 'quentes' naquela zona nos últimos anos, com a morte de vários membros do Hezbollah, a destruição de casas no sul do Líbano e de equipamentos militares no norte de Israel. Entre a população, teme-se uma invasão israelita.
Eis alguns pontos essenciais sobre a volátil linha de demarcação entre Líbano e Israel:
A delimitação da 'linha azul'
Os confrontos de segunda-feira aconteceram na chamada 'linha azul'. Esta linha figurativa é uma zona tampão que percorre os 120km do sul do Líbano e que foi criada pelas Nações Unidas em 2000 como uma "linha de retirada", para confirmar a saída completa das tropas israelitas após terem invadido o Líbano durante a guerra civil naquele país (1975-1990).
Foi a participação de Israel nesse conflito, para destruir a presença e crescimento da OLP dentro do Líbano, que levou em parte à criação do Hezbollah como um "movimento de resistência xiita" com o objetivo de "destruir o Estado de Israel", aliado ao Irão, e que funciona até hoje como um "Estado dentro do Estado", que controla o sul do Líbano, como descreve o think-thank Conselho de Relações Exteriores.
O papel das Nações Unidas
A 'linha azul' foi criada com um caráter temporário e é patrulhada pela Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL), esta mesma estabelecida em 1978 após uma invasão israelita do Líbano como resposta a um ataque perpetuado pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP) a civis israelitas no norte desse país desde o sul do Líbano.
Os conflitos na região fronteiriça precedem a 'linha azul', tal como a sua criação não impediu a continuação de ataques frequentes ao longo dos anos.
"Um desses ataques", escreve o Ministério de Negócios Estrangeiros Israelita, foi "um ataque transfronteiriço e bombardeamento de cidades israelitas pelo Hezbollah em 12 de julho de 2006, que...foi a causa imediata da Segunda Guerra do Líbano".
Ao fim de um mês, mais de mil pessoas morreram no Líbano. As memórias dos jatos israelitas a bombardear a capital Beirute, incluindo o aeroporto da cidade, continuam frescas nas mentes dos libaneses que agora temem uma repetição do mesmo terror.
O problema de Ghajjar
A guerra deixou para trás outro legado: a invasão israelita da vila de Ghajjar, que é divida ao meio pela 'linha azul'. Ao longo dos anos, Israel nunca retirou as suas tropas, declarando a vila de 3.000 habitantes como parte do seu território. Gradualmente, Israel tem vindo a construir uma fronteira física de betão protegida por arame farpado, torres de observação e sistemas de vigilância ao longo de dezenas de quilómetros na região em disputa.
O muro tem sido a fonte de vários conflitos, inclusive em abril deste ano, quando Israel anunciou que tinha terminado a construção de um muroà volta de Ghajar, anexando unilateralmente essa parte do território em disputa, e provocando a ira do Hezbollah.
O resultado foi uma das mais intensas trocas de mísseis e rockets entre o Hezbollah e Israel desde 2006.
Em resposta à escalada de violência a FINUL disse, em comunicado, que "Israel tem a obrigação de retirar-se da parte norte da vila de Ghajar" de acordo com os acordos internacionais aprovados pelos dois países.
A resistência local
O Hezbollah instalou uma tenda militar perto de Ghajar e em junho um único agricultor tornou-se a cara da resistência aos avanços israelitas quando se opôs, sozinho, a uma retroescavadora israelita que avançou para cima do homem incólume e quase o soterrou.
A cena "heroica" - como foi descrita por responsáveis libaneses - aconteceu perto de Ghajjar, nas "quintas de Shebaa" parte da região de Kfar Shuba, e palco dos confrontos desta segunda-feira.
O "volatilidade latente" da zona
"Devido à falta de marcas visuais", explica a FINUL, "pessoas e animais podem passar de um lado para o outro [da 'linha azul'] sem se aperceberem".
"No entanto, nem todas as violações da 'linha azul' são acidentais. Algumas, como a ocupação de Israel da parte norte da vila de Ghajjar, são bem conhecidas e contínuas. Outras são menos previsíveis - e até hostis. Qualquer ação unilateral levada a cabo pelas partes torna-se uma fonte de tensão considerável", diz a UNIFIL.
Desde o ataque do Hamas a Israel desde a faixa de Gaza, no passado sábado, as terras em disputa dentro da linha azul voltaram a ser campo de batalha, e fonte de grande preocupação para os libaneses.
Em 2021, o então chefe de missão da FINUL, o Major-General Stefano Del Col, disse num editorial que a situação na região "pode colapsar a qualquer instante, como as pessoas que vivem ao longo da 'linha azul' bem sabem".
"As razões fundamentais do conflito não desapareceram. Um dia, um simples erro num momento tenso poderá fazer com que esta volatilidade latente irrompa -- e pôr fim à atual frágil estabilidade, que todos trabalhámos tanto para garantir, ao fim. As possíveis consequências de tal erro são o que me mantém, e a muitos dos meus colegas de manutenção da paz, acordados à noite", disse Del Col na altura.
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