Num artigo publicado no 'site' do Council on Foreign Relations, um centro de investigação em Nova Iorque, Pandith avaliou que muitas comunidade no Médio Oriente veem uma ligação direta entre as ações de Israel - cuja ofensiva resultou na morte de milhares de civis em Gaza - e o apoio dos Estados Unidos.
"De forma alarmante, o país (EUA) encontra-se numa situação semelhante à da era pós-11 de setembro. Os Estados Unidos não têm o controlo da narrativa nem a capacidade, do ponto de vista das mensagens, para lidar com este momento de ritmo acelerado e emocionalmente carregado", disse a analista, que trabalhou nas administrações de George H.W. Bush, George W. Bush e Barack Obama.
Durante a resposta antiterrorista inicial dos EUA aos ataques da Al-Qaida, em 2001 as autoridades norte-americanas ficaram igualmente perante o dilema de como acalmar os crescentes sentimentos antiamericanos nas comunidades árabes e muçulmanas, e frustradas por terem de contrariar as alegações da Al-Qaida de que o Ocidente estava em guerra com Islão, observou Pandith, investigadora no campo do combate ao extremismo violento.
De acordo com a especialista, o período pós-11 de setembro oferece lições e um potencial guião para as autoridades norte-americanas enfrentarem este momento de conflito no Médio Oriente.
"Embora as emoções sejam intensas e ruidosas neste momento, a Administração precisa de permanecer ativa e clara no seu envolvimento com estas comunidades. Nas próximas semanas e meses, isso exigirá uma linguagem diferenciada por parte dos funcionários da Administração e dos líderes de opinião fora do governo", defendeu.
A estratega considera "vital" que a administração de Biden faça comparações entre os atos terroristas cometidos pelo Hamas e as ações passadas de outros grupos, como os talibãs e a Al-Qaida, de forma a justificar o seu forte apoio a Israel.
Contudo, em muitas comunidades árabes e muçulmanas, a perceção pública do Hamas difere das opiniões sobre outros grupos terroristas, com Farah Pandith a assinalar, a título de exemplo, que a rede Al Jazeera, financiada pelo Governo do Qatar, "ainda não chamou o Hamas de grupo terrorista".
Com um tratamento delicado, aconselhou Pandith, a administração Biden precisa de falar abertamente "sobre essa hipocrisia" e reafirmar a aversão à violência contra civis como ponto comum inicial.
"Dado que a Al Jazeera tem uma capacidade poderosa de conduzir narrativas, os EUA terão de desenvolver um mecanismo de diplomacia pública eficaz que possa disseminar informações de forma proativa para que isso aconteça", afirmou.
Para esse fim, Washington precisa agora de virar as suas atenções para o trabalho de influenciar a cultura de uma forma real e isso poderá passar por aumentar o orçamento para a diplomacia pública ou reforçar parcerias com especialistas do setor privado em diferentes gerações, como a "Geração Z e a Geração Millennial", de acordo com a estratega de política externa.
No seu artigo, Pandith também acredita que o Governo dos EUA deveria exigir que as plataformas sociais sediadas nos EUA tomem medidas para reduzir a propagação do ódio, uma vez que é enorme a capacidade das redes sociais de espalhar rapidamente informação e desinformação sobre esta guerra, "com o potencial de aumentar a discórdia social e complicar a elaboração de políticas".
Olhando para o impacto na política interna norte-americana, a especialista acredita que o aumento da violência e do extremismo em solo norte-americano - conforme registado desde o ataque do Hamas - poderá fazer aumentar o apoio interno a candidatos políticos extremistas, com impacto direto nas presidenciais de 2024.
"Este conflito já exacerbou as tensões geracionais entre a Administração Biden e os jovens americanos, que constituem um bloco eleitoral-chave para os Democratas e que tendem a ser mais críticos de Israel. Alguns estudantes universitários estão mesmo a rotular os militantes do Hamas de combatentes da liberdade", salientou.
"À medida que este conflito se desenrola, o Governo tem um imperativo moral e estratégico de fazer mais para combater o ódio anti muçulmano, o ódio antiárabe e o antissemitismo. Fazer isso irá ajudá-lo a alcançar os seus objetivos de política externa e interna", concluiu.
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