"Os Estados Unidos são nossos bons amigos, mas, acima de tudo, faremos o que é bom para o Estado de Israel", escreveu Ben Gvir nas redes sociais, em resposta às críticas de Washington, citado pela agência francesa AFP.
Segundo ele, "encorajar a emigração de centenas de milhares de pessoas de Gaza permitirá que os residentes [israelitas] regressem às suas casas [nos limites de Gaza] e vivam em segurança", protegendo os soldados israelitas.
Ben Gvir, líder do partido de extrema-direita Força Judaica, apelou na segunda-feira ao regresso dos colonos judeus a Gaza após a atual guerra de Israel contra o Hamas, em curso desde há cerca de três meses.
Um dia antes, outro dirigente de extrema-direita, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, fez apelos semelhantes.
Gaza é um pequeno enclave palestiniano de 365 quilómetros quadrados com 2,3 milhões de habitantes, pouco mais pequeno do que o concelho português de Vila Real, que tem cerca de 370 km2 e 52 mil habitantes.
O território, com o Mediterrâneo de um lado, Israel do outro e ligado na ponta sul à península egípcia do Sinai, é controlado pelo grupo islamita Hamas desde 2007.
Os israelitas estão em guerra com o Hamas desde 07 de outubro, quando comandos do grupo extremista atacaram Israel a partir de Gaza, matando 1.200 pessoas e fazendo mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades.
Desde então, uma ofensiva israelita causou 22.200 mortos, segundo um balanço atualizado hoje pelas estruturas de saúde do governo do Hamas, bem como a concentração de grande parte da população no sul de Gaza.
A expulsão de uma população do respetivo território é proibida pelas Convenções de Genebra, que constituem o núcleo do direito humanitário internacional.
Os estatutos do Tribunal Penal Internacional designam a "deportação ou transferência forçada de população" como um crime contra a Humanidade.
"Os Estados Unidos rejeitam as recentes declarações dos ministros israelitas Bezalel Smotrich e Itamar Ben Gvir, que defendem a deslocação dos palestinianos para fora de Gaza", declarou o porta-voz do Departamento de Estado num comunicado na terça-feira.
Matthew Miller descreveu os comentários dos dois ministros israelitas como irresponsáveis.
Os Estados Unidos são o maior aliado político e militar de Israel.
Smotrich, que dirige o partido Sionismo Religioso, voltou à carga hoje, afirmando aos meios de comunicação social locais que "70% do público israelita apoia a emigração voluntária dos árabes de Gaza" para outros países.
"Um país pequeno como o nosso não pode permitir-se uma realidade em que, a apenas quatro minutos das nossas cidades, existe um foco de ódio e de terror, onde dois milhões de pessoas acordam todas as manhãs com o desejo de destruir o Estado de Israel", afirmou.
Durante uma visita privada a Paris, em março, Smotrich negou a existência de um povo palestiniano.
"Não existem palestinianos porque não existe um povo palestiniano", disse na altura.
O Governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que reúne partidos judeus de direita, extrema-direita e ultraortodoxos, já foi acusado de ter reforçado fortemente a influência dos colonos na Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel desde 1967.
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