Numa carta aberta dirigida aos responsáveis argelinos, como os ministros do Interior, Ibrahim Mourad, e da Justiça, Abderrachid Tebbi, a Associação Marroquina de Ajuda aos Migrantes em Situação de Vulnerabilidade (AMSV) pediu às autoridades argelinas que decretassem um perdão geral para os migrantes marroquinos detidos, bem como que facilitassem e acelerassem o seu repatriamento.
Com sede na cidade fronteiriça de Oujda, a AMSV criticou as condições de detenção dos migrantes marroquinos e apelou às autoridades argelinas para que publiquem a lista dos detidos, a fim de permitir que as suas famílias os identifiquem e lhes garantam cuidados médicos e o direito à assistência de um advogado.
A AMSV indicou ter atualmente 98 casos registados de migrantes marroquinos detidos em várias prisões argelinas, alguns dos quais em regime preventivo há um ano, enquanto outros foram condenados a penas pesadas, disse à agência noticiosa espanhola EFE o presidente da ONG, Hassan Ammari.
"São 98 os casos que recebemos, mas há centenas nas prisões argelinas, porque cada família que vem relatar o caso do seu filho garante-nos que com ele há seis ou 12 outros marroquinos", disse o ativista, que lamentou que a rutura das relações entre os dois países vizinhos tenha complicado ainda mais o seu trabalho.
A ONG marroquina, que enviou igualmente duas outras cartas à representação da Cruz Vermelha na Tunísia e à União dos Advogados Árabes, pediu também às autoridades argelinas que autorizem o pessoal da organização humanitária a visitar os migrantes detidos nas suas prisões.
Segundo Ammari, a maior parte dos 789 migrantes marroquinos repatriados nos últimos dois anos a partir da Argélia regressaram pelo posto fronteiriço "Coronel Lotfi-Zouj Bghal", aberto excecionalmente para estas operações.
Alguns regressaram em voos da Tunísia porque os seus familiares conseguiram juntar dinheiro para financiar a viagem, explicou Ammari, acrescentando que um outro avião da Tunísia deverá chegar nas próximas horas com 19 migrantes marroquinos que foram repatriados da Argélia.
A Argélia e Marrocos têm uma fronteira terrestre fechada desde 1994. A tensão diplomática que dura há décadas entre os dois países por causa do conflito do Saara Ocidental agravou-se em agosto de 2021, quando Argel rompeu relações com Rabat e fechou o espaço aéreo com o seu país vizinho.
Ammari referiu que a Argélia também abriu excecionalmente a sua fronteira para repatriar os corpos dos migrantes marroquinos que se afogaram nas águas argelinas quando tentavam chegar a Espanha. Até à data, a associação ajudou a repatriar 41 corpos.
Devido ao endurecimento dos controlos fronteiriços por parte de Marrocos, muitos migrantes marroquinos tentam encontrar outras alternativas e viajam para a Argélia e a Tunísia para tentar alcançar o território europeu, nomeadamente Espanha ou Itália.
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