"Para nós é muito estranho quando a China diz que as eleições são uma escolha entre paz e guerra e o Kuomintang (KMT, Partido Nacionalista) parece ter o mesmo tom da China: Quem votar no partido do poder -- DPP -- é votar na guerra e quem votar no KMT é votar na paz", afirmou Chang Tsu-che em entrevista à Lusa a propósito das eleições no território cuja autonomia a China rejeita.
Face ao tom semelhante entre Pequim e oposição, "começa o receio de se o Kuomintang retomar o poder, talvez tome uma posição mais pró-China", uma "interpretação de todo o mundo, não só do povo de Taiwan", segundo Chang.
A ida às urnas em Taiwan já motivou tomadas de posição e respostas de Pequim e de Washington, além de uma ampla cobertura mediática internacional.
Em entrevista à Lusa, Chang notou como "toda a gente sabe da importância da democracia nesta eleição" e recordou que aquando da primeira eleição presidencial, em 1996, "sabe-se que a China lançou mísseis para ameaçar, porque consideravam que um presidente mais poderoso não é pró-China, é mais pró-independência".
Chang notou como em 1987 passou a ser possível a criação de outros partidos, além do único até então permitido, e foi fundada a fábrica de semicondutores TSMC, pelo que o "desenvolvimento económico sempre acompanhou a democratização", tornando Taiwan "um exemplo da Ásia e até no mundo".
Sublinhou ainda como é consensual no território manter o 'status quo' em relação a Pequim e sublinhou que "apesar da ameaça da China, se tem mantido a democracia", até porque há uma "defesa natural", numa referência à fronteira natural que o estreito representa para a ilha.
"Taiwan tem conseguido a sua democracia até agora, com essa ameaça da China, mas conseguimos defender por causa desta defesa natural, o estreito de Taiwan, e com o apoio de alguns países ocidentais, com os mesmos valores de Taiwan, sobretudo os americanos, que deixaram de ser aliado diplomático em 1979, mas continuam a apoiar a nossa defesa até agora. Temos confiança", rematou.
Na quinta-feira, a China apelou aos Estados Unidos para não "se intrometerem" nas eleições presidenciais de Taiwan e disse opor-se "firmemente" aos laços entre Taipé e Washington, que entretanto anunciou o envio de uma delegação à ilha após a votação.
"A China opõe-se firmemente a qualquer forma de intercâmbio oficial entre os Estados Unidos e Taiwan", sublinhou. "Existe apenas uma China no mundo e Taiwan é parte inalienável da China", frisou Mao Ning, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa.
Os Estados Unidos, cujas relações com a China continuam muito tensas, vão enviar "uma delegação informal" a Taiwan depois do ato eleitoral, anunciou quarta-feira um alto funcionário norte-americano, que pediu para não ser identificado e alertou Pequim contra qualquer ato "provocador" após estas eleições cruciais.
Em resposta, Mao Ning, disse que "a China expressa a sua profunda insatisfação e firme oposição aos comentários imprudentes dos Estados Unidos sobre as eleições na região de Taiwan".
À Lusa, Chang Tsu-che sublinhou ainda a atenção com que outros países vizinhos acompanham as eleições, referindo que com o Japão, antigo colonizador da ilha e rival da China.
"O Japão sabe muito bem que Taiwan não é o único alvo de expansão da China. Se a China comunista conseguir apoderar-se de Taiwan. Quem se segue? É o Japão", afirma.
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