Perante dezenas de milhares de militantes reunidos no estádio de Mbombela, no nordeste do país, Cyril Ramaphosa, vestido com um polo verde e amarelo (as cores do Congresso Nacional Africano -- ANC), repetiu a linguagem que os dirigentes do partido têm vindo a utilizar nos últimos meses para recuperar a credibilidade da força política.
Por ocasião do 112.º aniversário do partido, e tendo como pano de fundo um enorme cartaz que proclamava "O ANC Vive, O ANC Lidera", o chefe de Estado da África do Sul voltou a apelar aos sul-africanos para que não olhem demasiado para o historial dos últimos cinco anos, mas que comparem a situação do país hoje com a herdada por Nelson Mandela em 1994.
Nesse sentido, apelou aos ativistas para que façam uma campanha "vigorosa" no terreno para ganhar as próximas eleições gerais, que deverão realizar-se entre maio e agosto.
Segundo várias sondagens, o ANC poderá, pela primeira vez na sua história, obter menos de 50% dos votos ou mesmo cair para cerca de 45%, o que o obrigaria a formar uma coligação para se manter no poder, o que Ramaphosa tentou, no discurso, contrariar.
"Estamos a trabalhar para uma vitória clara", afirmou Ramaphosa, que começou a intervenção com uma crítica ao seu rival e antecessor, o ex-Presidente Jacob Zuma, que foi forçado a demitir-se em 2018 por acusações de corrupção.
Zuma, de 81 anos, entrou em guerra contra os seus "camaradas" em meados de dezembro de 2022, anunciando que não iria fazer campanha pelo ANC, mas sim por um pequeno partido recentemente criado e denominado Umkhonto We Sizwe (MK), em homenagem ao antigo braço armado do ANC durante a "luta" contra o regime de segregação racial ('apartheid').
Além da dissidência de Zuma, o antigo secretário-geral do ANC, Ace Magashule, também expulso do partido por corrupção, criou o seu próprio grupo político.
Estas forças, juntamente com o EFF (esquerda radical), o segundo maior partido da oposição do país, podem reduzir os votos do ANC, em particular entre uma classe trabalhadora desencantada, salientam analistas políticos citados pela agência noticiosa France-Presse (AFP).
"As forças anti-transformação estão a formar pactos e pequenos partidos que querem desafiar o ANC", observou Ramaphosa, que os descreveu como "cobras" que procuram "minar o partido".
"Não temos medo deles. Deixem-nos vir e eles encontrar-nos-ão", acrescentou.
Entre os pontos-chave do seu programa, que será pormenorizado em fevereiro próximo, Ramaphosa prometeu "acelerar a reconstrução da economia", para reduzir o desemprego, que atualmente se situa em torno nos 32%.
"Vamos continuar a nossa luta contra o crime e a corrupção, para renovar o nosso país", acrescentou Ramaphosa sobre a África do Sul, país que, segundo o Banco Mundial, continua a ser o mais desigual do mundo.
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