Os conselheiros para a Segurança Nacional de 83 Estados participaram numa quarta ronda de conversações assentes nas propostas em 10 pontos de Zelensky para uma paz justa e duradoura na Ucrânia, quase dois anos após o início da ofensiva militar russa em grande escala no país.
As conversações foram copresididas pelo conselheiro presidencial ucraniano Andriï Iermak, que dirige o gabinete de Zelensky, e pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) suíço, Ignazio Cassis, e decorreram na luxuosa estância de esqui de Davos, no leste da Suíça, na véspera da cimeira de cinco dias do Fórum Económico Mundial, que reúne a elite económica e política mundial.
"Oitenta e três nações estão em Davos para falar de paz e dos meios para alcançar a paz. Paz na Ucrânia, mas também noutros países onde existem conflitos. Uma paz de que o povo ucraniano necessita urgentemente", afirmou Cassis numa conferência de imprensa.
"Teremos, de uma forma ou de outra, de encontrar uma maneira de incluir a Rússia. Não haverá paz sem que a Rússia tenha uma palavra a dizer", observou.
Mas "tal não significa que devamos (...) esperar que a Rússia faça alguma coisa. A cada minuto que passa, dezenas de civis na Ucrânia são mortos ou feridos. Não temos o direito de esperar eternamente", acrescentou.
O chefe da diplomacia suíça indicou contudo que, até agora, nem Kyiv nem Moscovo estiveram dispostas a dar esse passo, nas três reuniões realizadas a nível de conselheiros da Segurança Nacional em Copenhaga, em junho de 2023, em Jeddah, em agosto, e em Malta, em outubro.
Cassis sublinhou a importância da participação nas negociações do Brasil, da Índia e da África do Sul, que fazem parte dos BRICS, juntamente com a Rússia.
"O seu envolvimento é muito importante, porque eles estão em diálogo com Moscovo e mantêm um certo grau de confiança" com a Rússia, explicou.
As conversações de Davos centraram-se, em particular, nos critérios para determinar o fim das hostilidades, a retirada das tropas russas, a justiça para os crimes cometidos e a prevenção de uma nova escalada.
Segundo o MNE suíço, a reunião de hoje deverá ser provavelmente a última desse tipo a nível de conselheiros de segurança nacional, devendo-se encarar a perspetiva de uma reunião a um nível superior.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991, após a desagregação da antiga União Soviética, e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, mas não conheceu avanços significativos no teatro de operações nos últimos meses, mantendo-se os dois beligerantes irredutíveis nas suas posições territoriais e sem abertura para cedências negociais.
As últimas semanas foram marcadas por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, enquanto as forças de Kyiv têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
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