Sobre o início da guerra no Estado vizinho, Putin disse: "Foram eles [ucranianos] que começaram a guerra em 2014. O nosso objetivo é que ela acabe. E não começámos esta guerra em 2022. Isto é uma tentativa de acabar com ela".
Esta declaração de Putin, contextualiza a AP, refere-se à violência na Ucrânia desencadeada pelo derrube, em 2014, do presidente amigo de Moscovo, Viktor Yanukovych, no seguimento de massivas manifestações antigovernamentais em Kyiv.
A Federação Russa respondeu com a anexação da Crimeia, enquanto começavam combates no leste industrial da Ucrânia, onde separatistas pró-russos alegavam que estavam a tentar proteger a população de fala russa.
Quando Putin iniciou a invasão militar da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, os líderes ucranianos e os aliados ocidentais consideraram-na um ato não provocado de agressão. Putin disse que for a forçado a agir de forma preventiva para impedir a Ucrânia de aderir à NATO e uma ofensiva em larga escala ucraniana destinada a recuperar os territórios do leste. A Federação Russa não avançou qualquer prova de preparação de tal operação.
Um segundo ponto foi o relativo à dita desnazificação da Ucrânia.
Putin disse: "Ainda não os nossos objetivos, porque um deles é o da desnazificação. Isto significa a proibição de todos os tipos de movimentos neonazis".
O contexto da frase é o das tentativas repetidas dos propagandistas russos de descreverem o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, como neonazi ou simpatizante do nazismo, apesar de ele ser judeu e já ter dito que três dos seus tios-avôs morreram durante o Holocausto. Putin não divulgou qualquer prova que sustentasse a sua afirmação repetida de que grupos radicais e ultranacionalistas influenciam Zelenskyy e têm uma voz decisiva na definição das políticas do país.
Sobre o fracasso das primeiras negociações de paz, Putin disse: "Assim que retirámos as nossas tropas de Kyiv, os negociadores ucranianos de imediato atiraram para o caixote do lixo os acordos alcançados em Istambul e prepararam-se para um confronto armado prolongado, com a ajuda dos EUA e dos seus satélites na Europa".
De facto, representantes russos e ucranianos negociaram um acordo provisório em Istambul, em março de 2022, um mês depois do início da invasão russa, mas rapidamente colapsou. Enquanto os russos descreveram a retirada das suas tropas das áreas circundantes de Kyiv como um sinal de boa vontade, efetivamente o Kremlin foi obrigado a retirar devido às perdas pesadas e aos problemas logísticos sofridos quando tentou capturar a capital ucraniana.
Sobre negociações futuras, Putin disse: "Não rejeitámos negociações".
Ora, o Kremlin, enquanto insiste que está aberto a negociações, mantém uma posição inflexível, segundo a qual a Ucrânia tem de reconhecer e aceitar os ganhos que a Federação Russa fez no leste e sul do país. Por sua vez, a Ucrânia assegura que não são possíveis quaisquer negociações até à retirada total dos russos das áreas ocupadas. Em setembro de 2022, o Kremlin anexou ilegalmente as regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson, que se juntaram à Crimeia.
Por fim, sobre as acusações de espionagem ao norte-americano Evan Gershkovich, que está detido na Federação Russa, Putin disse: "Ele foi apanhado em flagrante quando estava a receber secretamente informação classificada".
Ora, Gershkovich, um jornalista do The Wall Street Journal, foi detido em março de 2023, acusado de espionagem, e tem estado detido desde então a aguardar julgamento. Gershkovich e o jornal negam as acusações e o governo norte-americano assegurou que ele está detido injustamente. As autoridades russas não divulgaram qualquer prova mencionada por Putin para apoiar a acusação. Putin também sugeriu que se podia fazer uma trova de prisioneiros.
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