A morte do principal opositor russo, Alexei Navalny, numa prisão do Ártico, esta sexta-feira, causou indignação no Ocidente, responsabilizando a União Europeia o "regime russo" e alguns países atribuindo ao presidente russo, Vladimir Putin, um crime.
O tom crítico e de responsabilização para com Moscovo é transversal, tendo o Kremlin reagido com indignação. "Não há declarações de médicos nem informações de serviços forenses e penitenciários. Ou seja, não há informações", afirmou Dmitri Peskov, porta-voz presidencial, citado por agências russas. "Declarações absolutamente furiosas e inadmissíveis", acrescentou o responsável.
O embaixador da Rússia em Lisboa reagiu criticando a "politização" do facto e a comunicação social portuguesa. "A cobertura tendenciosa desta notícia está em plena sintonia com a retórica hostil dos 'media' portugueses que durante os últimos dois anos têm impingido ativamente ao seu público uma imagem 'demoníaca' da Rússia", acusou.
UE: "Regime russo" é "único responsável"
A União Europeia (UE) considera "o regime russo" o "único responsável pela trágica morte" de Alexei Navalny, declarou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
"Alexei Navalny lutou pelos valores da liberdade e da democracia. Pelos seus ideais, fez o sacrifício máximo", escreveu Michel na rede social X (antigo Twitter).
Alexei @navalny fought for the values of freedom and democracy. For his ideals, he made the ultimate sacrifice.
— Charles Michel (@CharlesMichel) February 16, 2024
The EU holds the Russian regime for sole responsible for this tragic death.
I extend my deepest condolences to his family. And to those who fight for democracy around…
NATO: Rússia "tem de responder a perguntas sérias"
A Rússia "tem de responder a perguntas sérias" sobre a morte do opositor político, declarou o secretário-geral da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental), Jens Stoltenberg, à margem da Conferência sobre a Segurança a decorrer em Munique, na Alemanha. "É importante apurar todos os factos. O que sabemos é que a Rússia tem exercido um poder cada vez mais totalitário contra os opositores de Putin", acrescentou.
ONU: ACNUDH exige "fim das perseguições" na Rússia, Guterres pede investigação
O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) declarou-se "indignado" com a morte de Alexei Navalny e apelou para o "fim das perseguições" na Rússia.
Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu uma "investigação completa, credível e transparente" à morte do opositor 'número um' do Kremlin, Alexei Navalny, indicou o seu porta-voz.
"O secretário-geral está chocado com as informações sobre a morte na prisão do opositor russo Alexei Navalny (...) e apela para uma investigação completa, credível e transparente às circunstâncias" da sua morte, declarou Stéphane Dujarric.
Estados Unidos: Rússia "é responsável"
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reagiu esta sexta-feira à morte de Alexei Navalny, o principal opositor ao regime russo. "Não se deixem enganar, Putin é responsável pela morte de Navalny", afirmou numa declaração desde a Casa Branca, asseverando ainda que esta é "mais uma prova da brutalidade" do presidente da Rússia.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, considerou hoje a Rússia responsável pela situação que levou à morte de Alexei Navalny, que, na sua opinião, evidencia "a fraqueza e a corrupção" do regime de Vladimir Putin.
A vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, classificou a morte do opositor russo como "mais um sinal da brutalidade" de Putin.
Canadá: Putin é "um monstro", diz Trudeau
O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, classificou o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, como "um monstro que reprimirá qualquer pessoa que lute pela liberdade do povo russo".
Polónia: Não há perdão para o Kremlin
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, escreveu hoje na rede social X: "Alexei, nunca te esqueceremos. E também nunca lhes perdoaremos".
Alexey, we will never forget you. And we will never forgive them.
— Donald Tusk (@donaldtusk) February 16, 2024
Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radoslaw Sikorski, acusou Putin de ser "responsável" pela morte da principal figura da oposição russa.
Estónia: PM condena "regime pária"
A primeira-ministra estónia, Kaja Kallas, condenou "o regime pária" russo, na sua opinião responsável pela morte de Alexei Navalny.
Letónia: Navalny "brutalmente assassinado pelo Kremlin"
O presidente letão, Edgars Rinkevics, culpou o regime do Presidente russo, Vladimir Putin, pela morte de Navalny, hoje na prisão, aos 47 anos.
Alexei Navalny "acaba de ser brutalmente assassinado pelo Kremlin, é um facto e é algo que é necessário que se saiba sobre a verdadeira natureza do atual regime da Rússia", escreveu Rinkevics na rede social X.
Throughout the day I was asked if the Kremlin cares about the international condemnation over the death of Alexey Navalny. No, it does not. The only thing Russian thugs care is us being strong. The only way to send a message to Putin is by supporting Ukraine so that Russia looses
— Edgars Rinkēvičs (@edgarsrinkevics) February 16, 2024
Ucrânia: Putin tem de "prestar contas", diz Zelensky
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, defendeu hoje que Putin "tem de prestar contas pelos seus crimes".
"É evidente para mim que [Alexei Navalny] foi morto, tal como milhares de outros que foram torturados até à morte por causa de uma só pessoa, Putin, que não se importa com quem morre desde que conserve o seu cargo", declarou Zelensky em Berlim.
Alemanha: Chanceler Scholz "muito triste"
O chanceler alemão, Olaf Scholz, lamentou hoje que o principal opositor russo tenha "pagado com a vida a sua coragem", declarando-se "muito triste".
"É horrível que uma voz corajosa, destemida e comprometida com o seu país tenha sido silenciada por métodos terríveis", reagiu também a ex-chanceler, Angela Merkel, afirmando-se "extremamente abalada".
Reino Unido: Uma "imensa tragédia" para o povo russo
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, lamentou "a imensa tragédia" que representa para o povo russo a morte de Alexei Navalny, prestando homenagem à "coragem do mais feroz defensor da democracia" na Rússia.
França: "Ira e indignação", diz Macron
O presidente da República francês, Emmanuel Macron, expressou hoje "ira e indignação" pela morte da figura de proa da oposição russa.
"Na Rússia de hoje, os espíritos livres são metidos no gulag e aí condenados à morte", condenou Macron, numa mensagem publicada na rede social X.
In today's Russia, free spirits are sent to the Gulag and condemned to death. Anger and indignation.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) February 16, 2024
I pay tribute to the memory of Alexeï Navalny, his dedication, his courage. My thoughts go out to his family, loved ones, and to the Russian people.
Portugal: MNE português responsabiliza Putin pela morte de opositor
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, responsabilizou hoje o Presidente russo, Vladimir Putin, pela morte do opositor Alexei Navalny, assim como por muitas outras mortes, e admitiu a intensificação de sanções à Rússia.
"Temos aqui mais este caso trágico, de Alexei Navalny, uma figura de grande relevo na política russa, que teve a ousadia de desafiar Putin. Foi envenenado, esteve a recuperar durante algum tempo, quis regressar à Rússia, foi imediatamente preso e nos últimos tempos as notícias que fomos recebendo foram de prisões cada vez mais duras para Alexei Navalny, portanto é evidente que Putin é o responsável pela morte de Alexei Navalny, tal como é responsável por tantas outras mortes", disse o governante português.
Para a mulher de Navalny, Putin deve ser punido
A mulher do principal opositor russo, cuja morte foi hoje anunciada pelas autoridades russas, defendeu hoje que Putin deve "ser punido" pelas atrocidades cometidas contra Alexei Navalny.
A partir da Alemanha, Iulia Navalnaia reagiu à notícia da morte do marido afirmando que Putin deve ser "considerado pessoalmente responsável".
O prémio Nobel da Paz russo Dmitri Muratov condena "assassínio"
O diretor do jornal independente Novaia Gazeta, Dmitri Muratov, distinguido em 2021 com o prémio Nobel da Paz, escreveu hoje: "O assassínio foi acrescentado à sentença de Alexei Navalny".
Muratov publicou esta declaração no seu jornal, proibido na Rússia em 2022, na sequência da invasão russa da Ucrânia.
"Assassinato lento e público", diz Garry Kasparov
Para o antigo campeão de xadrez russo Garry Kasparov, Putin "assassinou lenta e publicamente" Navalny. "Putin não conseguiu matar Navalny rápida e secretamente ao mandar envenená-lo e, agora, assassinou-o lenta e publicamente na prisão", escreveu Kasparov na rede social X.
"Navalny foi morto por ter desmascarado Putin e a sua máfia como os vigaristas e os ladrões que são", acrescentou.
Navalny showed Russians what civic courage looks like. Putin wants to show Russians that courage is pointless.https://t.co/UBfvN1c8W4
— Anne Applebaum (@anneapplebaum) February 16, 2024
O ex-deputado da oposição russa Dimitri Gudkov acusa Putin do "assassínio" de Navalny
"A morte de Alexei Navalny é um assassínio. Realizado por Putin", declarou Gudkov nas redes sociais.
"Mesmo que Alexei tenha morrido de causas 'naturais', elas são consequência do seu envenenamento e, depois, da tortura na prisão", sublinhou.
Para o escritor russo Boris Akunin, Navalny "tornou-se imortal"
"Um Alexei Navalny assassinado será uma ameaça maior para o ditador que um Alexei Navalny vivo. O ditador já não pode fazer mais nada contra Navalny. Navalny está morto e tornou-se imortal. Ele acabará por enterrar Putin", declarou o escritor.
Boris Akunin é o pseudónimo de Grigori Chkhartishvili, um escritor nascido na Geórgia mas com cidadania russa que desde 2014 vive no exílio e foi incluído em janeiro deste ano pelo Ministério do Interior russo na lista de procurados.
Alexei Navalny, de 47 anos, morreu hoje numa prisão do Ártico para onde tinha sido recentemente transferido para cumprir uma pena de 19 anos sob "regime especial", segundo o serviço penitenciário federal da Rússia.
Ter-se-á sentido mal depois de uma caminhada, entrou em paragem cardiorrespiratória e os médicos da prisão e os dos serviços de socorro que acorreram à prisão não conseguiram reanimá-lo, indicou a direção do estabelecimento.
Até ao momento, a equipa de Navalny não confirmou a informação da sua morte.
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