Em comunicado, Guterres reiterou a sua "solidariedade inabalável" para com o povo do Haiti, num momento em que o país é abalado por uma grave vaga de violência e o primeiro-ministro haitiano anunciou a renúncia ao cargo.
"O secretário-geral toma nota do acordo alcançado ontem [segunda-feira] pelas partes interessadas haitianas sobre um acordo de governação transitório, incluindo a criação de um Conselho Presidencial e a nomeação de um primeiro-ministro interino. Também toma nota do anúncio do primeiro-ministro, Ariel Henry, de que renunciaria imediatamente após a instalação de um Conselho Presidencial de Transição", indicou Stéphane Dujarric, porta-voz de Guterres, na mesma nota informativa.
O ex-primeiro-ministro português expressou ainda o seu apreço à Caricom - Comunidade das Caraíbas - e a outros parceiros internacionais por facilitarem um caminho para a resolução da crise política no Haiti, que leve a "eleições pacíficas, credíveis, participativas e inclusivas".
"As Nações Unidas, através da sua missão, continuarão a apoiar o Haiti no seu caminho rumo às eleições. O secretário-geral reitera a sua solidariedade inabalável com o povo do Haiti que necessita de segurança, abrigo, alimentação e cuidados médicos, e de viver as suas vidas com dignidade", concluiu o porta-voz do secretário-geral.
O primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, concordou em renunciar ao cargo e abrir caminho à transição de poder no país, disse na segunda-feira o atual líder da Caricom.
"Tomamos nota da renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry", disse Mohamed Irfaan Ali, numa conferência de imprensa após uma reunião de emergência de alto nível dedicada ao Haiti que decorreu na Jamaica.
O também Presidente da Guiana disse estar satisfeito por anunciar "um acordo de governação transitório que abre caminho para uma transição pacífica de poder, continuidade da governação, um plano de ação de segurança a curto prazo e eleições livres e justas".
Mohamed Irfaan Ali garantiu que Henry irá renunciar formalmente ao cargo assim que for criado um conselho de transição e nomeado um chefe de Governo interino.
Os países caribenhos reuniram-se de urgência na segunda-feira na Jamaica, por iniciativa da Caricom, com representantes da ONU e de vários países, incluindo França e Estados Unidos, para tentar encontrar uma solução para o Haiti.
Sem eleições desde 2016, o Haiti não tem atualmente um parlamento, nem um Presidente. O último chefe de Estado, Jovenel Moïse, foi assassinado em 2021.
A vaga de violência causada por gangues armados aumentou quando, a 28 de fevereiro, se soube que Henry, que devia ter deixado o poder em 07 de fevereiro, nos termos de um acordo de 2022, se tinha comprometido a realizar eleições no Haiti apenas em 2025.
Michel Patrick Boisvert, que tem assumido funções de primeiro-ministro interino, decretou na segunda-feira a extensão do recolher obrigatório por mais três dias na região oeste, que inclui a capital Port-au-Prince.
O Haiti, cujo Governo prolongou até 03 de abril o estado de emergência na zona da capital, está à beira de uma guerra civil, que ameaça causar um desastre humanitário.
O conjunto de crises que afetam o Haiti fez com que 1,4 milhões de pessoas estivessem "a um passo da fome", segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), que alertou para o esgotamento dos seus abastecimentos devido à falta de acesso e à insegurança.
O Haiti já é "uma das crises alimentares mais graves do mundo", sublinhou o chefe do PAM no Haiti, Jean-Martin Bauer.
A agência distribuiu ajuda a quase 300 mil pessoas nos primeiros dez dias de março, mas a deterioração galopante da situação complica qualquer previsão. O número de pessoas deslocadas continua a crescer e já ultrapassa os 360 mil.
O Haiti é o país mais pobre do hemisfério ocidental.
Leia Também: Gaza. Representantes da ONU saúdam corredor marítimo, mas deixam alerta