Quando quatro homens armados se dirigiram calmamente até aos detetores de metais e começaram a disparar indiscriminadamente contra quem estava na sala de espetáculos Crocus City Hall, em Krasnogorsk, nos subúrbios de Moscovo, muitos optaram por se deitar no chão. Caso disso foi uma jovem que, a partir de uma cama de hospital, contou ter fingido estar morta para se proteger. Contudo, a rapariga a seu lado foi morta.
“Viram-nos. Um deles correu e começou a disparar contra as pessoas. Caí no chão e fingi estar morta. Estava a sangrar. A rapariga deitada ao meu lado foi morta”, recordou a jovem, não identificada, citada pelo The Guardian.
Os homens, que seriam membros do Estado Islâmico (EI), atearam depois fogo ao edifício, possivelmente numa tentativa de matar todos os que estavam no seu interior.
“As chamas aumentaram. Fecharam a porta da frente, mas provavelmente não conseguiram trancar a fechadura. Ao fim de algum tempo, rastejei. Olhei em volta e rastejei até à saída. Percebi que não havia ninguém ali e saí”, disse a jovem, que terá sido baleada no braço esquerdo.
O atentado que matou 133 pessoas e feriu mais de 150 ocorreu minutos antes de um concerto esgotado da banda russa Piknik, tendo a plateia pensado inicialmente que os barulhos de tiros faziam parte do espetáculo.
“A dado momento, ouvimos um grande estrondo vindo de fora da sala, e pensámos que fazia parte do concerto. Mas depois percebemos que algo estava muito errado, percebemos que eram tiros”, disse Arina, uma psicóloga clínica de 27 anos de Moscovo, ao mesmo meio.
A jovem relatou que, depois, viu um homem camuflado a entrar na sala com uma arma automática, levando todos a deitar-se no chão.
“Olhei para o lado e vi muitas pessoas feridas e cobertas de sangue”, disse, recordando que uma mulher que tentou abordar o terrorista foi baleada à queima-roupa.
Arina conseguiu escapar e fugir, mas viu “sangue no chão por toda parte e muitos corpos”.
“Algumas pessoas tentaram carregar aqueles que estavam inconscientes”, complementou.
O canal de Telegram Baza, que é conhecido pela relação próxima com os serviços especiais russos, adiantou que 14 corpos foram encontrados nas escadas de incêndio e outros 28 cadáveres foram descobertos num dos cubículos da casa de banho. Aquele meio, citado pela agência Reuters, detalhou terem sido encontrados corpos de famílias inteiras, inclusivamente mães e filhos abraçados.
Devido ao incêndio, o telhado desabou e centenas de bombeiros lutaram contra as chamas durante horas. Ainda assim, tudo o que restou foram as vigas de suporte de ferro carbonizado e as estruturas de aço de centenas de assentos.
Saliente-se que o Serviço Federal de Segurança (FSB) russo avançou, no sábado, ter detido 11 indivíduos alegadamente ligados ao atentado, entre os quais os quatro terroristas que terão perpetuado diretamente o ataque.
O presidente russo condenou ontem o que denominou de ato terrorista "bárbaro e sangrento", e apelou à vingança. Embora não tenha especulado sobre os autores intelectuais do ataque, sugeriu que os quatro detidos tentavam cruzar a fronteira para a Ucrânia, que, segundo o líder russo, tentou criar uma "janela" para ajudá-los a escapar.
As autoridades ucranianas negaram, desde a primeira hora, qualquer envolvimento no ataque e uma fonte da inteligência dos EUA disse à Associated Press que as agências norte-americanas confirmaram que o grupo era responsável pelo ataque.
Um dos detidos supostamente envolvido no ataque confessou que lhes prometeram 500 mil rublos (cerca de 5.000 euros) para participar no atentado.
Numa gravação do interrogatório publicada pelo Canal Um da televisão russa, o detido afirma ter recebido metade da soma, através de uma transferência para um cartão bancário.
As detenções foram resultado de uma operação conjunta entre o FSB e combatentes do regimento checheno Akhmat, segundo anunciou pouco depois o líder da Chechénia, Ramzan Kadirov.
O veículo que os autores do atentado conduziam era um Renault Logan de cor branca, presumivelmente o mesmo no qual chegaram ao Crocus City Hall na noite de sexta-feira.
Segundo as autoridades russas, conseguiram escapar do local e seguir pela autoestrada até cerca de 100 quilómetros da fronteira com a Ucrânia.
As autoridades continuam a investigar, mas no interrogatório foi apurado que toda a operação começou há apenas um mês com a oferta monetária.
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