Que razões tem o Estado Islâmico para atacar a Rússia? E o que implica?
O ataque de sexta-feira na sala de concertos Crocus City Hall, em Moscovo, reivindicado pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI), causou até agora 143 mortes, com questões religiosas e políticas por trás do atentado.
© REUTERS/Yulia Morozova
Mundo Ataque em Moscovo
No dia seguinte ao ataque, o autoproclamado Estado Islâmico disse que as vítimas eram cristãs e matá-las fazia parte do conflito do grupo com "os Estados que combatem o Islão", mas os motivos da organização terrorista parecem ser muito mais complexos.
Eis algumas implicações deste ataque:
Por que razão o Estado Islâmico atacou a Rússia?
O EI não costuma fazer distinção entre os países do mundo, considerando-os todos alvos legítimos por serem habitados por não muçulmanos ou governados por apóstatas, mas a Rússia inspira um ressentimento especial, segundo o especialista do Crisis Group, Jerome Drevon.
A invasão do Afeganistão pela União Soviética em 1979 e a década de ocupação que se seguiu ainda suscitam a fúria de muitos jihadistas, tal como as duas guerras da Rússia na Chechénia, em 1994 e 2000.
Mais recentemente, o envolvimento ativo de Moscovo no apoio ao regime sírio envolveu numerosos confrontos com o grupo terrorista, nomeadamente na cidade de Palmira, que o poder aéreo russo ajudou as forças do regime de Bashar al-Assad a recapturar.
Ao longo do último ano, a Rússia também criou alianças com juntas militares no Sahel, apoiando-as nos esforços para controlar vários grupos militantes, incluindo a filial do EI na região.
A filial do Estado Islâmico no Afeganistão esteve envolvida no ataque a Moscovo?
Os responsáveis ocidentais tendem a considerar o Estado Islâmico - Província de Khorasan (EI-K), sediado no Afeganistão e no Paquistão, como o afiliado mais capaz de perpetrar ataques fora da sua área de atuação imediata.
No caso do atentado de Moscovo, a principal organização do Estado Islâmico - e não o EI-K - assumiu a responsabilidade, mas de acordo com 0 Crisis Group, fontes sugerem que os EUA, que publicamente culparam o grupo global e não a sua filial afegã, consideram que o IS-KP está envolvido.
Desde que os talibãs assumiram o controlo do Afeganistão, o EI-K levou a cabo vários ataques fora do país.
"A realização de ataques em países estrangeiros é uma forma de projetar poder e preservar a relevância do EI-K, mesmo quando o grupo perde combatentes e território no Afeganistão", afirmou Drevon.
Segundo o Crisis Group, a Rússia e outros países têm mantido diálogos informais com responsáveis talibãs, em parte com o objetivo de compreender melhor o EI-K.
Os ataques de Moscovo estão relacionados com a guerra da Ucrânia?
Sem apresentar provas, o Presidente Vladimir Putin disse que os quatro homens que a Rússia acredita serem os atiradores estavam a tentar fugir por uma "janela" na fronteira russo-ucraniana.
Um porta-voz dos serviços secretos militares ucranianos considerou esta alegação absurda, uma vez que os suspeitos teriam de atravessar uma frente ativa repleta de soldados e polícias secretos russos.
"Em todo o caso, o ataque parece estar fora de sincronia com a tática da Ucrânia para se defender da invasão total da Rússia", sublinha Drevon.
A Ucrânia, que tem capacidade para atacar a retaguarda da Rússia com mísseis e ataques de 'drones', nunca recorreu a ataques propositadamente em grande escala contra civis, como os que o EI e os seus afiliados têm levado a cabo.
Que implicações poderá ter o ataque para a Rússia a nível interno?
Na Rússia, o ataque é suscetível de reforçar ainda mais a posição do Kremlin.
O Kremlin poderá também utilizá-lo como justificação para novas medidas repressivas contra figuras da oposição e restrições à governação local e às liberdades civis, como foi visto em 2004, quando Putin aboliu a eleição direta dos governadores em resposta ao ataque de Beslan, quando homens armados cercaram uma escola, causando centenas de mortes.
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