Berlim pede inquérito "exaustivo" a ataque que matou trabalhadores da WCK

A ministra dos Negócios Estrangeiros (MNE) alemã, Annalena Baerbock, instou hoje Israel a "realizar uma investigação rápida e exaustiva" sobre a morte de sete trabalhadores humanitários num ataque israelita na Faixa de Gaza.

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© Kay Nietfeld/picture alliance via Getty Images

Lusa
02/04/2024 18:42 ‧ 02/04/2024 por Lusa

Mundo

Annalena Baerbock

"Os trabalhadores humanitários devem poder fazer o seu importante trabalho em total segurança em todo o mundo, e também em Gaza (...). Incidentes como este não podem acontecer", escreveu a MNE alemã numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter).

Israel admitiu hoje que um ataque "não-intencional" matou na Faixa de Gaza sete trabalhadores da organização não-governamental (ONG) World Central Kitchen, que distribui alimentos no território palestiniano sitiado e ameaçado de fome.

Com sede nos Estados Unidos, a ONG World Central Kitchen (WCK), uma das poucas ainda a operar naquele enclave palestiniano devastado por quase seis meses de guerra entre Israel e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), anunciou "a suspensão das suas operações na região", após o ataque ocorrido na noite de segunda-feira em Deir al-Balah (centro).

Vários países e organizações condenaram o ataque, alguns pedindo "explicações" a Israel, cujo Exército está a realizar uma ofensiva de grande envergadura à Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, em retaliação a um ataque do movimento islamita a solo israelita a 07 de outubro de 2023.

"Infelizmente, ontem (segunda-feira), deu-se um incidente trágico: as nossas forças atacaram de forma não-intencional inocentes na Faixa de Gaza", declarou hoje o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

"Tal ocorreu numa guerra, vamos investigar a fundo, estamos em contacto com os Governos e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que nunca mais se repetirá", acrescentou.

"Devastada", a WCK confirmou que "sete membros da equipa foram mortos em Gaza, num ataque das forças israelitas".

"Estou destroçada e consternada que nós, a World Central Kitchen e o mundo, tenhamos perdido preciosas vidas hoje, por causa de um ataque seletivo das forças israelitas", declarou a presidente da WCK, Erin Gore.

As vítimas eram "originárias da Austrália, da Polónia, do Reino Unido, [e incluíam ainda] um cidadão com dupla nacionalidade norte-americana e canadiana e uma pessoa palestiniana", segundo a ONG.

Desde o início da guerra, a WCK participou nas operações humanitárias, nomeadamente fornecendo refeições no território palestiniano, onde a maioria dos cerca de 2,4 milhões de habitantes estão ameaçados de fome, segundo a ONU. A organização ajudou ao envio de um primeiro navio com ajuda de Chipre para Gaza, em meados de março.

Aliados históricos de Israel, os Estados Unidos apelaram para uma investigação "rápida e imparcial"; o Reino Unido convocou hoje o embaixador de Israel em Londres para lhe expressar a sua "condenação inequívoca" da morte dos sete trabalhadores humanitários, três dos quais britânicos.

As vítimas da WCK foram transportadas para o hospital de Deir el-Balah. Um correspondente da agência de notícias francesa AFP viu cinco cadáveres e três passaportes estrangeiros junto aos restos mortais.

Numa imagem divulgada pela mesma agência, pode ver-se o corpo de uma das vítimas envergando uma 't-shirt' preta com o logótipo da ONG. Outras mostram a carcaça destruída do veículo, com um grande buraco no tejadilho, mesmo sobre o logótipo da WCK.

Desde o início da guerra, várias ONG presentes na Faixa de Gaza afirmaram que os seus trabalhadores ou instalações foram atingidos por bombardeamentos israelitas.

A 07 de outubro do ano passado, combatentes do Hamas -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e 250 reféns, cerca de 130 dos quais permanecem em cativeiro e 34 terão entretanto morrido, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.

Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul, estando agora iminente uma ofensiva à cidade meridional de Rafah, onde se concentra mais de um milhão de deslocados.

A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 179.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 32.916 mortos, mais de 74.000 feridos e cerca de 7.000 desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.

O conflito fez também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que já está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.

Leia Também: Conflito em Gaza causou prejuízos de 18,5 mil milhões de dólares

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