Oposição cabo-verdiana diz que conferência sobre democracia é "marketing"

Os presidentes dos dois partidos da oposição cabo-verdiana acusaram hoje o Governo de não lhes ter permitido participar na conferência internacional sobre democracia na ilha cabo-verdiana, considerando-a como "marketing" para a comunidade exterior. 

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Lusa
08/04/2024 18:33 ‧ 08/04/2024 por Lusa

Mundo

Cabo Verde

"Foi feito um convite geral a todos os deputados" e nenhum foi "direto ao líder do partido", afirmou o presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Rui Semedo, na Praia, em reação à conferência internacional "Liberdade, Democracia e Boa Governança", na ilha do Sal, organizada pelo Governo cabo-verdiano.

Rui Semedo afirmou que o convite só foi feito para "encher a sala com os participantes, como figura de decoração", defendendo que "não foi atribuído nenhum papel a ninguém da oposição para fazer uma comunicação".

O presidente do PAICV apontou que o que falta em Cabo Verde é uma prática de democracia e não conversas sobre o tema que "alimentam os erros dos que atropelam" a vida da população.

"Aqui falta-nos uma cultura democrática e atitudes que permitam aceitar e respeitar a diferença de forma genuína e autêntica. Se analisarmos os custos e os benefícios, a prioridade não era seguramente os investimentos deste montante nesta operação que chamaríamos de marketing sem qualquer retorno para as populações", afirmou.

Para Rui Semedo, em Cabo Verde, onde o "desemprego e a pobreza só não incomodam os desalmados e insensíveis" daqueles que o governam, é "imoral investir 55 milhões de escudos neste evento para convencer a comunidade internacional, mas ignorando por completo o povo sofredor".

Defendeu ainda que se o país quer ser livre e ter uma democracia de qualidade, deve promover a liberdade de expressão e "deixar de condicionar ou perseguir aqueles que não leem pela cartilha do Governo", criar condições para que os cidadãos não tenham medo de criticar os "desmandos da governação que prejudicam o desenvolvimento do país" e fazer uma gestão transparente dos recursos públicos.

Igualmente, o presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), João Santos Luís, disse que recebeu o convite do próprio primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva e respondeu pedindo para participar como um dos oradores, mas o Governo nunca respondeu.

 João Santos Luís criticou o Governo por organizar uma conferência sobre democracia e boa governança, mas que "não permite a participação ativa dos dois presidentes dos partidos".

O dirigente político considerou que a "democracia em Cabo Verde é ainda incipiente e nem os cidadãos são completamente livres de opinião".

A principal ilha turística de Cabo Verde, Sal, acolhe hoje e na terça-feira uma conferência internacional sobre "Liberdade, Democracia e Boa Governança".

O programa inclui mais de 20 oradores e, no final, será apresentada a Declaração do Sal, sobre proteção dos direitos humanos, promoção das liberdades e boa governanção em África e no mundo.

O primeiro-ministro cabo-verdiano defendeu na abertura da conferência que, num mundo digital que gera o "caos", "a melhor resposta aos ataques à democracia é mais democracia".

Leia Também: Cabo Verde. Melhor resposta aos ataques à democracia "é mais democracia"

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