"Um ataque militar a Rafah constituiria uma escalada intolerável, matando milhares de civis e forçando centenas de milhares de pessoas a fugir", disse Guterres à imprensa na sede da organização, em Nova Iorque, pedindo às autoridades israelitas que não realizem um ataque no sul do território.
Uma ofensiva "terá um impacto devastador sobre os palestinianos em Gaza e graves repercussões na Cisjordânia ocupada e em toda a região", advertiu o secretário-geral das Nações Unidas.
"Todos os membros do Conselho de Segurança e muitos outros Estados expressaram claramente a sua oposição a tal operação. Apelo a todos aqueles que têm influência sobre Israel para fazerem tudo o que estiver ao seu alcance para a impedir", insistiu.
O alerta do líder da ONU surge depois de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter assegurado que o exército de Israel entraria, "com ou sem" uma trégua com o Hamas, na cidade de Rafah, que faz fronteira com o Egito, e que é considerada por Telavive como o último reduto do grupo islamita palestiniano.
"A ideia de que vamos parar a guerra antes de termos alcançado todos os nossos objetivos está fora de questão. Vamos entrar em Rafah e eliminar os batalhões do Hamas, com ou sem acordo [de trégua], a fim de obter uma vitória total", disse hoje Netanyahu em Jerusalém a familiares dos reféns detidos na Faixa de Gaza desde o início do conflito, há mais de seis meses.
A cidade de Rafah tornou-se num refúgio para um milhão e meio de palestinianos, que fugiram dos bombardeamentos de Israel no norte do território após o início da guerra em 07 de outubro de 2023, provocada pelo sangrento ataque do Hamas em solo israelita.
"Eles têm muito pouco para comer, quase nenhum acesso a cuidados médicos, pouco abrigo e nenhum lugar seguro para onde ir. No norte de Gaza, os mais vulneráveis, desde crianças doentes a pessoas com deficiência, já estão a morrer de fome e de doenças. Devemos fazer todos os possíveis para evitar uma fome totalmente evitável e provocada pelo Homem", declarou Guterres.
O líder das Nações Unidas referiu-se igualmente às negociações entre Israel e Hamas para uma trégua na Faixa de Gaza, avisando que, sem um acordo, a guerra poderá piorar exponencialmente.
"Para o bem do povo de Gaza, dos reféns e das suas famílias em Israel, e para o bem da região e do mundo em geral, apelo ao Governo de Israel e aos líderes do Hamas para que cheguem a um acordo agora", afirmou.
Guterres disse também estar "profundamente preocupado" com a descoberta de valas comuns nos dois principais hospitais da Faixa de Gaza e defendeu uma investigação independente.
"É imperativo que investigadores internacionais independentes tenham acesso imediato aos locais para determinar as circunstâncias exatas em que os palestinianos perderam as suas vidas e foram enterrados ou reenterrados", declarou.
O secretário-geral das Nações Unidas considerou ainda essencial que a "liberdade de expressão e a liberdade de manifestação" sejam garantidas nos protestos universitários pró-palestinianos que se espalharam pelos Estados Unidos nas últimas duas semanas.
"Acredito que é essencial em qualquer circunstância garantir a liberdade de expressão e a liberdade de manifestação pacífica e, ao mesmo tempo, é óbvio que o incitamento ao ódio é inaceitável", disse Guterres.
Neste sentido, defendeu que, com base na sua experiência, deveriam ser as próprias universidades a aplicar a "sabedoria necessária" para "gerir adequadamente" a situação.
Dezenas de estudantes da Universidade Columbia, em Nova Iorque, ocuparam o Hamilton Hall, um dos edifícios mais importantes do complexo, na madrugada de hoje, horas depois da aplicação de suspensões aos estudantes envolvidos nos protestos contra a ofensiva israelita.
Os protestos de Columbia juntam-se aos que centenas de estudantes de dezenas de outras universidades nos Estados Unidos realizam há dias para protestar contra a guerra na Faixa de Gaza.
O conflito entre Israel e o Hamas já resultou em mais de 34 mil pessoas mortas, na maioria civis, na Faixa de Gaza, segundo as autoridades do pequeno enclave palestiniano, controlado pelo grupo islamita desde 2007.
A ofensiva israelita é uma retaliação pelo ataque do movimento islamita palestiniano, que em 7 de outubro matou em Israel mais de 1.100 pessoas e fez cerca de 250 reféns.
A retaliação israelita está a provocar uma grave crise humanitária em Gaza, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que já está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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