A "ameaça russa" instalou-se no país báltico de 2,8 milhões de habitantes, membro da União Europeia (UE) e da NATO, em particular pelos receios incentivados pela liderança do país caso Moscovo vença a sua guerra contra o Ucrânia.
"O entendimento sobre a amaça russa pela Lituânia é unânime e incontestável, e os principais candidatos estão de acordo sobre esta questão", indicou à agência noticiosa AFP Linas Kojala, diretor do Centro de estudos sobre a Europa de leste.
As sondagens fornecem ao Presidente cessante, Gitanas Nauseda, 59 anos, antigo banqueiro, uma vantagem confortável sobre os restantes sete candidatos, onde se incluem a primeira-ministra Ingrida Simonyte e o conhecido advogado de tendência conservadora Ignas Vegele.
Os observadores perspetivam a vitória de Nauseda na segunda volta, agendada para o final de maio.
Na primeira volta, e segundo a mais recente sondagem, Nauseda deverá obter mais de 35% dos votos, contra 12% para Vegele e 10% para Simonyte.
As assembleias abriram na passada terça-feira para uma votação antecipada das presidenciais, e com os eleitores também a pronunciarem-se em referendo sobre o estatuto de cidadania.
O Presidente da Lituânia, com poderes essencialmente protocolares, é o responsável máximo das Forças Armada, supervisiona com o Governo a política externa e de segurança e participa nas cimeiras da UE e NATO.
Os três principais candidatos manifestam posições similares face à defesa, mas divergem sobre as relações entre a Lituânia e a China, tensas desde há vários anos devido à questão de Taiwan.
Vegele, um advogado de 48 anos que se fez conhecer pela oposição à vacinação obrigatória durante a pandemia, apresenta-se como uma alternativa aos políticos tradicionais e promete uma governação mais transparente, assinala a AFP.
Simonyte, 49 anos, é conservadora no plano fiscal mas com opiniões liberais nas questões sociais. Defende a união entre pessoas do mesmo sexo, que ainda suscita controvérsia neste país de maioria católica.
Apresenta-se às presidenciais pela segunda vez, após ter sido derrotada por Nauseda na segunda volta da eleição em 2019, com uma taxa de participação situada nos 45,7%.
"Simonyte é apoiada pelos eleitores do partido conservador e os liberais, enquanto Nauseda é um candidato de esquerda em termos de política económica e social" e Vegele "apenas receberá o apoio dos que pretendem simplesmente uma mudança" referiu à AFP Ramunas Vilpisauskas, analista na universidade de Vilnius.
A Lituânia, antiga república soviética e hoje alinhada com as principais potências ocidentais, permanece um dos principais doadores da Ucrânia e destaca-se pelos significativos investimentos na área da defesa, com um orçamento atual de 2,75% do PIB.
O Governo dirigido por Simonyte deverá apresentar nas próximas semanas propostas destinadas a aumentar as despesas da defesa até 3% do PIB.
A Lituânia pretende designadamente utilizar estes fundos para adquirir carros de combate e novos sistemas de defesa antiaérea, e quando prevê acolher em permanência no seu território até 2027 uma brigada alemã de 5.000 soldados.
Nenhum dos principais candidatos contesta estes projetos, mas Vegele prometeu uma auditoria à defesa para uma eficaz gestão das finanças, caso seja eleito.
As difíceis relações entre Nauseda e os conservadores no poder da sua rival Simonyte têm motivado debates sobre política externa, em particular as relações com a China.
As relações bilaterais agravaram-se em 2021, quando Vilnius autorizou Taiwan a abrir uma embaixada com o nome da ilha, rompendo com a habitual prática diplomática que consiste em utilizar o nome da capital, Taipé, para evitar reações antagónicas de Pequim.
A China, que considera Taiwan parte do seu território e se opõe a qualquer apoio à ilha suscetível de lhe conferir legitimidade internacional, degradou as suas relações diplomáticas com Vilnius e bloqueou as suas exportações.
Esta decisão motivou uma forte controvérsia entre os políticos lituanos, com alguns a exigirem o restabelecimento das relações em nome da economia do país.
Entre os 2.000 observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) que são aguardados para acompanhar o escrutínio, incluem-se 20 observadores internacionais da Estónia, Letónia, Polónia, Ucrânia, Moldova, e ainda representantes do Fundo de assistência eleitoral dos Estados Unidos e do gabinete na Ucrânia do Fundo para sistemas eleitorais (IFES).
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