Irão. Morte de Raisi é "importante perda" e sucessor deve ser conservador

A analista iraniana Ghoncheh Tazmini considerou hoje uma "importante perda" a morte do Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, na queda de helicóptero ocorrida domingo, estimando que o sucessor continue a pertencer à ala conservadora.

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Lusa
21/05/2024 16:24 ‧ 21/05/2024 por Lusa

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A analista, autora de vários livros sobre história iraniana e "visiting fellow" do Centro para o Médio Oriente da London School of Economics, notou também como o falecido Presidente tinha "inabalável lealdade para com o Líder Supremo", o 'ayatollah' Ali Khamenei.

Dadas as suas características de "estadista diligente e direto" e "natureza diplomática e cautelosa", Raisi era "fiável para o regime, ao ponto de ser considerado um potencial candidato ao cargo de Líder Supremo numa era pós-Khamenei". "Por isso, a sua perda é importante", sublinhou à Lusa.

Ex-diretora de Investigação no Instituto Ravand de Estudos Económicos e Internacionais, o primeiro grupo de reflexão iraniano independente, Ghoncheh Tazmini vive atualmente entre Portugal, Canadá e Reino Unido tem tripla nacionalidade: iraniana, portuguesa e canadiana.

Nascida em Teerão, Tazmini mudou-se com a família para Londres três anos antes da revolução iraniana (1979) que substituiu a monarquia autocrática pró-ocidental liderada pelo xá Mohammad Reza Pahlevi, numa república islâmica teocrática sob o comando do ayatollah Ruhollah Khomeini.

A autora sublinhou à Lusa que a Constituição iraniana prevê eleições presidenciais no prazo de 50 dias, com o primeiro vice-presidente Mohammad Mokhber a assumir temporariamente as funções do presidente.

Ghoncheh Tazmini caracterizou ainda como "um desafio" a mobilização de eleitores em pouco tempo, sobretudo num "regime que enfrenta uma taxa de participação eleitoral historicamente baixa".

Este período poderia servir para "promover um processo político mais inclusivo" designadamente através da apresentação de um candidato presidencial moderado, "aumentando potencialmente a participação dos eleitores", referiu.

"No entanto, as tensões regionais podem exigir um líder mais conservador, o que levará a uma intensificação da concorrência entre os adeptos da linha dura", disse.

As equipas de socorro iranianas recuperaram na segunda-feira os restos mortais de Raisi e dos outros oito passageiros que seguiam no helicóptero que se despenhou no dia anterior no noroeste do Irão, anunciou a organização humanitária Crescente Vermelho.

O helicóptero que transportava também o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir-Abdollahian, despenhou-se na zona de Kalibar e Warzghan, na província do Azerbaijão Oriental, no noroeste do país.

O Governo iraniano confirmou a morte de Raisi, acrescentando que o desastre não vai causar "qualquer perturbação na administração" do país.

Em declarações à Agência Lusa, Ghoncheh Tazmini estimou "multidões sem precedentes" nas cerimónias fúnebres de Raisi, hoje iniciadas, "refletindo a sua popularidade entre vários segmentos da população".

"Esta efusão de emoções ocorre apesar das afirmações sobre a sua falta de carisma e suposta impopularidade", acrescentou a autora, indicando que a nível regional, Raisi deve ser chorado como um "apoiante e protetor dos movimentos de resistência, especialmente entre os oprimidos e os desfavorecidos".

Quanto à segurança nacional, o Conselho dos Guardiães poderá impor um "controlo mais rigoroso dos candidatos" para garantir que o novo chefe de Estado salvaguarde o país durante as "perturbações regionais".

Sobre política externa, Tazmini notou como o falecido Presidente reduziu o isolamento do país e que deve agora manter a mesma trajetória, com uma "ênfase contínua no Oriente e a participação em agrupamentos políticos e económicos não ocidentais".

Na região, o Irão deverá continuar a apoiar "parceiros locais não estatais, agentes e milícias". "Esta estratégia, que o Irão encara como uma forma de dissuasão baseada na sua perceção de um ambiente de segurança volátil, continuará a ser a pedra angular do seu modelo militar", afirmou.

Leia Também: Moçambique lamenta morte de Raisi e recorda "relações amistosas" com Irão

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