A OMS tem vindo a apelar há muito para um acesso que permita retirar um maior número de pessoas gravemente doentes ou feridas do território palestiniano devastado pela guerra.
Apesar de milhares de palestinianos necessitarem de evacuação médica urgente, até agora muito poucas pessoas foram autorizadas a fazê-lo.
Desde o arranque da ofensiva israelita na zona de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, no início de maio, "todas as evacuações médicas foram interrompidas abruptamente" no dia seguinte, o que significa que mais pessoas estão a morrer enquanto esperam por tratamento, afirmou a porta-voz da OMS, Margaret Harris.
Antes do início da guerra no enclave, 50 a 100 pessoas deixavam Gaza todos os dias para beneficiar de tratamentos complexos, nomeadamente contra o cancro, que não estavam disponíveis no território palestiniano.
"Estas pessoas não partiram porque o conflito começou, por isso precisam de ser acompanhadas", disse Harris aos jornalistas em Genebra, Suíça.
Uma vez que as infraestruturas sanitárias de Gaza foram devastadas, é necessário que mais pessoas saiam para aceder a tratamentos, nomeadamente quimioterapia e diálise, entre outros, acrescentou a porta-voz da agência da ONU.
Segundo a OMS, cerca de 10.000 pessoas têm de ser retiradas "para receberem o tão necessário tratamento médico".
Destas, mais de 6.000 sofrem de traumatismos e pelo menos 2.000 têm doenças crónicas graves.
Desde que as evacuações médicas de Gaza pararam completamente em 08 de maio, houve mais 1.000 pacientes gravemente doentes ou feridos, de acordo com Harris.
"Se não receberem tratamento, infelizmente vão morrer", declarou.
Antes desta decisão, a OMS tinha recebido autorização para efetuar 5.800 evacuações médicas, ou seja, cerca de metade das evacuações solicitadas desde o início da guerra, há quase oito meses.
Apenas 4.900 pacientes foram efetivamente retirados, indicou a porta-voz da agência das Nações Unidas.
Mais pessoas precisam de evacuação médica após o ataque israelita que, segundo o Ministério da Saúde de Gaza tutelado pelo grupo extremista Hamas, matou 45 pessoas no domingo num campo de deslocados em Rafah, uma cidade na fronteira com o Egito.
Centenas de civis ficaram queimados e feridos por estilhaços, segundo as autoridades e os médicos de Gaza.
As queimaduras graves requerem "um tratamento muito, muito complexo" e "se não receberem esse tratamento, morrem", sublinhou Harris.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que as mortes foram um "acidente trágico", uma afirmação rejeitada pelo porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), James Elder.
"Acho que a questão é saber o que chamar aos ataques ferozes que mataram milhares e milhares de crianças", considerou, questionando: "Quantos mais 'erros' é que o mundo vai tolerar?".
A guerra começou a 07 de outubro de 2023, depois de um ataque do grupo islamita Hamas em solo israelita, matando mais de 1.170 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da agência France-Presse (AFP) baseada em dados oficiais israelitas.
O movimento islamita, classificado como terrorista pela União Europeia, Estados Unidos e Israel, fez ainda mais de 200 reféns, dos quais cerca de 130 permanecem retidos na Faixa de Gaza.
Em resposta, o exército israelita lançou uma ofensiva devastadora no enclave palestiniano, controlado pelo Hamas desde 2007.
Quase 36.100 palestinianos, na sua maioria civis, foram mortos desde o início da ofensiva israelita, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
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