As europeias são a terceira eleição que os polacos são chamados a votar desde 15 de outubro, quando uma coligação pós-eleitoral liderada pela Plataforma Cívica (PO), do ex-presidente do Conselho Europeu Donald Tusk, arredou o populista ultraconservador Lei e Justiça (PiS), ao fim de oito anos consecutivos no poder, e que, apesar de ter vencido as legislativas, não alcançou maioria parlamentar.
Na altura, uma participação recorde de 74,4%, numas eleições consideradas pelos analistas como as mais importantes desde a queda do comunismo, sinalizou um voto na mudança da retórica antieuropeia do PiS, bem como das suas políticas sociais criticadas como retrógradas e o fim da partidarização da administração pública.
Além disso, os nacionalistas ultraconservadores eram acusados de controlo dos media estatais e do poder judicial, colocando Varsóvia mais próxima da Hungria eurocética de Viktor Orban do que de Bruxelas, o que levou a União Europeia (UE) a congelar fundos milionários devido a violações dos valores europeus relacionados com o estado de direito.
As relações com UE foram tema dominante daquelas legislativas históricas e altamente disputadas e agressivas, em que os nacionalistas argumentavam pelo seu lado que os liberais europeístas estavam vendidos a Bruxelas e Berlim e dirigiam-se ao então líder da oposição como "Herr Tusk".
Depois disso, em abril, os polacos voltaram a ser chamados às urnas, que voltaram a ditar uma vitória global do PiS, mas o PO de Tusk conquistou as principais cidades, incluindo a capital e a segunda maior cidade do país, Cracóvia, e até obteve uma votação superior às legislativas, num escrutínio visto como "primárias" das europeias que se avizinham.
Num momento em que o PO e PIS se encontram empatados nas sondagens, Donald Tusk reforçou, num comício na terça-feira em Varsóvia (assinalando simbolicamente a data das primeiras eleições parcialmente livres no país, em 1989) uma nova ênfase histórica na escolha para o Parlamento Europeu, quando passam 20 anos sobre a adesão à UE.
Segundo o atual primeiro-ministro, a opção deve preservar o que foi alcançado nas últimas duas décadas -- "liberdade, o Ocidente" -- e o que descreveu como maturidade do eleitorado, quando se livrou dos "ladrões e canalhas" populistas conservadores nas últimas legislativas.
Deve ainda resistir às ações de manipulação política, na forma de sabotagens, espionagem e ciberataques, que se têm avolumado nos últimos meses com origem apontada em Moscovo, e às campanhas de desinformação, como aquela que distribuiu uma notícia falsa indicando que a Polónia estava a mobilizar 200 mil homens para combater na vizinha Ucrânia.
A par disso, a Polónia volta a enfrentar uma pressão migratória junto da fronteira com a Bielorrússia, que é acusada, juntamente com a Rússia, de promover a deslocação de vagas de imigrantes ilegais asiáticos e africanos para o país sede da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex) e desestabilizar a entrada leste do espaço europeu.
A direita populista, que, no seu último mandato no executivo, ergueu um grande muro de vigilância ao longo da fronteira com a Bielorrússia e reforçou a repressão contra migrantes, tem explorado um sentimento crescente de hostilidade às centenas de milhares de refugiados ucranianos residentes no país, apesar de Varsóvia permanecer como o principal aliado regional de Kiev face à invasão russa.
Inquéritos recentes indicam que a "segurança militar" é a principal vantagem que os polacos encontram na sua adesão à UE, à frente da liberdade de viajar ou trabalhar em qualquer país europeu, quando Varsóvia tem planos de aumentar em 2025 a sua despesa em defesa para 4% do PIB, o dobro do acordado entre os aliados da NATO.
Sinalizando a importância que dedica às próximas eleições, Tusk remodelou o Governo no mês passado e nomeou quatro ministros e seis vice-ministros para a lista do seu partido ao Parlamento Europeu (PE), enquanto o PiS, reforçou o discurso eurocético junto do seu eleitorado, no qual 40% são contra a adesão à UE.
O líder dos conservadores nacionalistas, Jaroslaw Kaczynski, acusa as instituições comunitárias de "quererem destruir a religião católica", de transformar "as pessoas em animais" e de serem dirigidas por uma elite "burocrática e amoral" que limita a liberdade de expressão.
Atualmente, 25 dos 51 eurodeputados polacos pertencem ao PiS, enquanto o PO tem apenas 13, servindo o escrutínio também como um "termómetro" da força das outras formações do executivo, que incluem os progressistas da Esquerda e os democratas-cristãos da Terceira Via, e, no campo da oposição, da extrema-direita da Confederação, que surge em terceiro lugar nas sondagens, rondando os 12%.
Por outro lado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem em Tusk um dos seus principais aliados e apoiantes na campanha para a sua reeleição como principal candidata do Partido Popular Europeu (PPE).
O compromisso de Tusk de reativar o Triângulo de Weimar, que integra polacos, alemães e franceses, em detrimento do Grupo de Visegrado (Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia), é um gesto muito bem-vindo para os seus principais aliados europeus, que aplaudiram a sua eleição como um sinal do retorno de Varsóvia à boa convivência comunitária.
No entanto, Tusk, tal como a oposição do PiS, opõe-se ao acordo europeu de migrações e asilo, rejeita o Pacto Verde, não planeia adotar o euro a curto ou médio prazo e terá de concretizar a reforma judicial para restaurar totalmente o estado de direito no seu país.
A Polónia presidirá à UE no primeiro semestre de 2025, sucedendo à Hungria.
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