Em declarações à Lusa, o diretor-adjunto do Centro de Política Europeia (EPC), Ricardo Borges de Castro, afirma que "a direita radical, populista e eurocética cresce, como apontavam a maioria das previsões, mas o centro pró-europeu aguenta", com Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita), Socialistas, os liberais do Renovar a Europa e os Verdes -- estes dois "com quedas significativas" - a conseguirem uma maioria no Parlamento Europeu que "pode garantir estabilidade e acordos e a eleição do futuro presidente da Comissão Europeia".
Na sua opinião, temas como o Pacto Verde ou as imigrações, em relação aos quais as famílias pró-europeias já tinham diferenças, "vão tornar-se mais contenciosos".
"Haverá coligações de geometria variável de acordo com as políticas públicas ou legislação que estiver em causa e nalguns temas os partidos políticos da direita radical ditos mais pragmáticos vão tentar ter mais influência", refere Borges de Castro.
A candidata principal do PPE, Ursula Von der Leyen, continua a ser a "mais óbvia" para seguir para um segundo mandato na Comissão Europeia, mas o especialista antecipa que "isto ainda não são favas contadas", perante o "risco da ausência da disciplina de voto".
"Resta saber se vai também pedir o voto dos Irmãos de Itália à primeira-ministra, Giorgia Meloni, [ECR]? Se o fizer arrisca-se a perder apoio à esquerda", avisa.
A "grande incógnita", considera, é saber como se vai organizar a direita radical: "Um supergrupo é pouco provável", mas os Conservadores e Reformistas (ECR) ou o Identidade e Democracia (ID) podem reorganizar-se, ou ainda surgir um terceiro grupo, "mais radical ainda".
Por seu lado, o consultor em Assuntos Europeus Henrique Burnay afasta a "ideia não realista" de que estaria em curso uma coligação entre a direita e a direita radical, mas considera que as coisas não correram bem.
"A extrema-direita teve grandes ganhos e ganhos em situações que tornam o processo político europeu muito complicado", refere, afirmando que ainda são possíveis "maiorias moderadas no Parlamento".
O hemiciclo dos próximos cinco anos será "semelhante ao anterior, mas com menos inclinação verde, com os socialistas mais libertos da pressão à sua esquerda para uma agenda mais tradicionalmente socialista (menos verde ou identitária) e o PPE ganha margem de manobra para em alguns temas poder fazer maiorias mais com liberais e conservadores do que com socialistas e verdes".
Nos extremos, os grupos "dificilmente se entenderão para formar um grupo grande" e, mesmo que o façam, "dificilmente votarão de forma coordenada".
Von der Leyen "pode ter" o apoio do PPE, Socialistas, Liberais e até dos Verdes, "se não resolverem ficar de fora dos consensos", para a reeleição na Comissão Europeia, mas Burnay antecipa que os eurodeputados do partido da primeira-ministra italiana também votem favoravelmente a sua recondução, argumentando que "não é possível, desejável ou provável que no Conselho se ostracize Meloni, como até agora não se ostracizou".
O PPE venceu as eleições para o Parlamento Europeu nos 27 países da União Europeia (UE), com 185 eurodeputados, mais 48 do que os socialistas do S&D (137 eleitos), segundo os resultados provisórios.
Os liberais do Renovar a Europa conquistaram 80 lugares no hemiciclo, mais sete dos que Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), com 73 eurodeputados.
A extrema-direita do Identidade e Democracia conseguiu eleger 58 representantes, os Verdes 52 e a Esquerda Europeia alcançou 36 eurodeputados.
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