Governo talibã afirma que direitos das mulheres estão fora da agenda de Doha

O chefe da delegação do governo talibã disse hoje que as questões internas do Afeganistão, incluindo os direitos das mulheres, como a educação e a liberdade de movimento, estão fora da agenda do diálogo de Doha, organizado pela ONU.

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© JAVED TANVEER/AFP via Getty Images

Lusa
29/06/2024 14:43 ‧ 29/06/2024 por Lusa

Mundo

Afeganistão

A delegação que representa os talibã na sua primeira reunião internacional neste formato, que começa no domingo, será chefiada por Zabiullah Mujahid, porta-voz principal do governo de Cabul, e por representantes do Ministério do Interior, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ministério do Comércio e da Indústria e do Banco Central do Afeganistão.

Segundo o chefe do gabinete político dos talibã em Doha, Suhail Shaheen, a reunião, cuja ordem de trabalhos foi negociada durante meses entre a ONU e os fundamentalistas, abordará a luta contra os estupefacientes e as sanções financeiras e bancárias.

Esta será a terceira ronda de conversações internacionais sobre o Afeganistão a ter lugar em Doha desde a tomada de Cabul pelos talibã e a primeira em que estes participam. É também a primeira vez que os representantes da sociedade civil afegã e os ativistas dos direitos humanos não são convidados pela ONU.

"O Emirado Islâmico Afegão é o governo do Afeganistão e não deveria haver outros representantes do Afeganistão", respondeu hoje durante uma conferência de imprensa Mujahid, quando questionado porque não foram convidados os representantes das mulheres afegãs.

Segundo o governo fundamentalista, dar voz aos afegãos através de diferentes canais "abre caminho à interferência estrangeira".

Os talibã também não esperam abordar questões como a aplicação da lei islâmica, os castigos corporais ou a abolição do direito das mulheres à educação, as restrições ao trabalho ou à circulação.

A este respeito, o porta-voz dos talibã afirmou que "as questões relacionadas com os afegãos são questões internas e as reuniões internacionais não são o local adequado para as levantar".

Entretanto, os ativistas dos direitos das mulheres afegãs manifestaram o seu desapontamento com a reunião que, na sua opinião, não tem qualquer relevância se não forem abordadas as questões dos direitos fundamentais.

A questão mais importante e catastrófica é a dos direitos das mulheres afegãs, que são completamente ignorados pelos talibã. Se a reunião é da ONU e não tem interesses políticos, as mulheres deveriam e devem fazer parte da reunião", disse à EFE a defensora dos direitos afegãos Mina Rafiq.

Mas sem isso "a reunião abrirá caminho a mais violações dos direitos das mulheres afegãs e à sua privação da vida pública e, mais uma vez, os seus direitos serão ignorados", lamentou.

A agenda oficial da reunião de Doha não foi divulgada, mas espera-se que aborde questões como a ajuda humanitária, a reconstrução do país e a luta contra o terrorismo.

Leia Também: Afeganistão? "Reintegração" só com progressos nos direitos das mulheres

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