Segundo a organização não-governamental (ONG), tanto o exército sudanês como o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que estão em guerra desde 15 de abril de 2023, estão a infligir "violência aterradora" a toda a população do país da costa oriental africana.
De acordo com a coordenadora da Unidade de Emergência dos MSF, Mercè Rocaspana, os dados dos centros médicos do Chade, onde estão a ser tratados refugiados sudaneses, apontam para o "uso generalizado da violência sexual como forma de guerra".
O testemunho de 135 pessoas nos campos de refugiados do Chade mostram que 90% das vítimas de violência sexual foram abusadas por agressores armados, refere o comunicado.
A organização humanitária afirma que os hospitais da região têm sido "sistematicamente saqueados e atacados", como é exemplo um hospital pediátrico em Al Fasher, atingido por um ataque aéreo em maio, que matou duas crianças e levou ao encerramento definitivo das instalações.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de junho indicam que 70-80% dos hospitais em zonas de conflito estão fora de serviço, enquanto alguns centros de saúde que ainda funcionam estão a operar a níveis mínimos.
Além disso, os MSF documentaram pelo menos "60 incidentes de violência e ataques contra o seu pessoal, bens e infraestruturas".
Rocaspana sublinha igualmente a dimensão de "violência étnica" que o conflito está a assumir em várias zonas de Darfur, o principal reduto das RSF, onde estas e milícias associadas "espancam frequentemente a comunidade Masalit e outros grupos não árabes".
Segundo a ONG, por outro lado, as organizações médicas que operam no terreno enfrentam "obstáculos burocráticos" que dificultam a prestação de ajuda no Sudão, para além dos constantes ataques que impedem a chegada da ajuda internacional.
"A violência das partes em conflito é agravada por obstruções", sublinha Vickie Hawkins, diretora geral dos MSF, citada no comunicado.
"Ao bloquear, interferir e sufocar os serviços quando as pessoas mais precisam deles, a retenção de selos e assinaturas pode ser tão mortal quanto balas e bombas no Sudão", acrescenta.
"Apelamos a todas as partes em conflito para que facilitem o aumento da ajuda humanitária", afirma Hawkins, e "acima de tudo, a que ponham termo a esta guerra sem sentido contra as pessoas, cessando imediatamente os ataques contra civis, infraestruturas civis e zonas residenciais".
Desde o seu início em abril de 2023, o conflito no Sudão matou dezenas de milhares de pessoas e deslocou mais de 10 milhões, tanto internamente como para outros países.
De acordo com as Nações Unidas, cerca de metade da população encontra-se no limiar da fome.
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