Autoridades do Egito, Qatar, Jordânia, Líbano e Síria, entre outras, advertiram que o ataque à residência de Haniyeh em solo iraniano -- em que um dos seus guarda-costas também foi morto -- põe em perigo a região e pode levar a uma escalada de violência.
As autoridades israelitas não confirmaram qualquer operação em Teerão.
O Egito, um dos mediadores-chave para o fim do conflito entre Israel e Hamas em Gaza, afirmou que o assassinato do líder do Hamas é um sinal da "falta de vontade política" de Telavive para pôr fim à violência e levantou a possibilidade de os últimos desenvolvimentos alastrarem o conflito a outros países.
O Cairo afirmou que a decisão compromete "os esforços enérgicos do Egito e seus parceiros para tentar travar a guerra na Faixa de Gaza" e apelou ao Conselho de Segurança da ONU "para evitar que a situação fique fora de controlo".
O primeiro-ministro do Qatar, Mohamed Abdulrahman al-Thani, lamentou que a morte de Haniyeh comprometa as conversações de paz.
"O assassínio por motivos políticos e as mortes de civis em Gaza levam-nos a perguntar como é que a mediação pode ser bem-sucedida se um lado assassina o negociador do outro lado", afirmou numa mensagem nas redes sociais.
"A paz precisa de atores sérios e de uma forte oposição a qualquer posição que vá contra a vida humana", acrescentou o líder do Qatar.
Anteriormente, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar afirmou que se tratava de um "crime hediondo" atribuído a Israel, o que constituía uma "violação flagrante do direito internacional".
O Qatar, juntamente com o Egito e os Estados Unidos, foram os principais interlocutores no quadro das negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.
O primeiro-ministro cessante do Líbano, Nayib Mikati, advertiu que a situação "escalou para um nível perigoso" e instou a comunidade internacional a "deixar de ser um espetador das transgressões de Israel", enquanto as autoridades da Síria condenaram o ataque e acusaram Israel de violar as normas internacionais e "causar danos à estabilidade regional".
O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, ameaçou "castigar" Israel pela morte do líder da ala política do Hamas, Ismail Haniyeh, considerando que, "com este ato criminoso e terrorista, o regime sionista [Israel] preparou o terreno para um duro castigo e consideramos que é nosso dever vingar o assassinato em território da República Islâmica do Irão".
Pouco antes, o novo Presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, acusou Israel de ter assassinado o líder palestiniano do Hamas e prometeu fazer com que o país "se arrependa" de um ato que considerou "cobarde". "A República Islâmica do Irão vai defender a integridade territorial, a honra, o orgulho e a dignidade, e vai fazer com que os invasores terroristas [Israel] se arrependam do ato cobarde", disse Pezeshkian.
Por seu lado, as autoridades turcas vieram a público condenar o assassínio, acusando o governo de Benjamin Netanyahu de "não ter qualquer intenção de alcançar a paz", segundo a agência noticiosa Anatolia. "A região enfrentará conflitos muito maiores se a comunidade internacional não fizer nada para travar Israel", afirmou.
O próprio Presidente Recep Tayyip Erdogan afirmou que "a barbárie sionista não atingirá os seus objetivos" e disse que o que aconteceu "não acabará com a vontade palestiniana". "É crueldade e procura pôr fim à causa palestiniana, à nobre resistência em Gaza. É uma crueldade e pretende acabar com a causa palestiniana, com a nobre resistência de Gaza, intimidá-la", lamentou Erdogan.
A estes países juntaram-se outros atores internacionais, como o Iraque, o Paquistão, a Rússia e a China, que também classificaram o ataque de "inaceitável".
"Isto não está certo. É absolutamente inaceitável e conduzirá a uma escalada de tensão", declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Mikhail Bogdanov, palavras que estão em sintonia com as do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, que receia um aumento da instabilidade no Médio Oriente.
Posteriormente, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que tais ataques têm como objetivo "dificultar as tentativas de restabelecer a paz na região", de acordo com os meios de comunicação social russos.
Do Afeganistão, o governo de facto liderado pelo talibãs lamentou "o martírio desta grande figura", que disse ser "uma perda significativa para a Ummah [nação islâmica] e para os jihadistas".
Outros movimentos islamitas também condenaram o assassínio de Haniyeh, com as maiores críticas a virem do próprio Hamas, que responsabilizou Israel e garantiu que o crime não ficará impune.
Também a Autoridade Palestiniana (AP) criticou o assassínio, considerando que Haniyeh "morreu em resultado de um ataque sionista traiçoeiro", lê-se num comunicado do Hamas, informou a agência de notícias iraniana Tasnim. O líder da AP, Mahmud Abbas, e o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Hussein al-Sheikh, condenaram igualmente a morte de Haniyeh, ambos considerando tratar-se de um "ato cobarde".
O grupo xiita libanês Hezbollah também condenou hoje o assassínio e garantiu que esta morte aumentará a "determinação" de quem luta contra Israel, posição idêntica à dos rebeldes xiitas Huthis do Iémen, que reafirmaram o apoio ao Hamas e todas as fações da resistência para fazer face às ações sionistas apoiadas pelos Estados Unidos".
Entretanto, os movimentos palestinianos da Cisjordânia ocupada apelaram hoje a uma greve geral nos territórios palestinianos, poucas horas depois da divulgação do "assassínio no quadro do terrorismo do Estado sionista" de Haniyeh.
Por seu lado, em Singapura, os Estados Unidos, o secretário de Estado norte-americano defendeu que "nada coloca em causa a importância de alcançar um cessar-fogo" em Gaza, após o assassínio do líder político do Hamas.
Antony Blinken também garantiu que os EUA não estão implicados neste ato.
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