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Militar responsável pelo Massacre de Mi Lay morreu aos 80 anos

William Calley, o tenente norte-americano que comandou as tropas que massacraram 504 civis em My Lai, no Vietname, em 1968, morreu aos 80 anos em abril, segundo o Washington Post que consultou o registo de óbito.

Militar responsável pelo Massacre de Mi Lay morreu aos 80 anos
Notícias ao Minuto

10:37 - 01/08/24 por Lusa

Mundo William Calley

O Massacre de My Lai, durante a guerra do Vietname, é o mais conhecido crime de guerra da história militar moderna dos Estados Unidos.

 

Calley morreu no dia 28 de abril, de acordo com o registo de óbito que indica que o ex-militar vivia num apartamento em Gainesville, Estado da Florida.

A morte foi noticiada inicialmente pelo jornal Washington Post, citando a certidão de óbito.

Calley viveu na obscuridade durante as décadas que se seguiram ao julgamento em tribunal marcial e à condenação em 1971, tendo sido o único dos 25 militares inicialmente acusados a ser considerado culpado do massacre que, além de outros fatores, também contribuiu para alterar a opinião pública norte-americana contra a guerra no Vietname.

Em 16 de março de 1968, Calley comandou os soldados norte-americanos da Companhia Charlie (C) numa missão para enfrentar um grupo de "inimigos vietcongues".

Em vez de prosseguirem com a missão de combate, os soldados mataram 504 civis, na maioria mulheres, crianças e idosos, na povoação de My Lai e numa outra aldeia vizinha.

Os soldados acabaram por testemunhar perante a comissão de investigação do Exército dos Estados Unidos que os assassínios começaram pouco depois de Calley ter conduzido o primeiro pelotão da Companhia Charlie para My Lai, nessa manhã.

Alguns foram mortos por golpes de baioneta, famílias foram reunidas em abrigos e mortas com granadas de mão, uutros civis foram chacinados numa vala de drenagem e mulheres e raparigas foram violadas em grupo.

Só mais de um ano depois é que a notícia do massacre se tornou pública, na sequência de uma investigação do jornalista Simon Hersh.

Segundo a Associated Press, embora My Lai tenha sido o massacre mais notório da história moderna dos Estados Unidos, os registos militares dos EUA, arquivados durante três décadas, descrevem 300 outros casos que poderiam ter sido considerados como crimes de guerra.

My Lai destacou-se pelo número chocante de mortos num só dia, pelas fotografias e pelos "pormenores macabros" expostos por um inquérito de alto nível do Exército norte-americano.

As investigações sobre o massacre e as alegações de encobrimento por parte do Pentágono foram lançadas na sequência de uma queixa apresentada por um piloto de helicóptero, Hugh Thompson Jr., que salvou 16 crianças vietnamitas na aldeia e que mais tarde testemunhou contra Calley.

Vários outros soldados que se encontravam no local também prestaram depoimentos depois de o escândalo ter sido publicado.  

Calley foi condenado em 1971 pelo assassínio de 22 pessoas durante a chacina e sentenciado a prisão perpétua, mas cumpriu apenas três dias porque o Presidente Richard Nixon (1913-1994) ordenou a redução da pena.

Cumpriu três anos de prisão domiciliária.

Em 1971, sem pedir desculpa ou admitir a culpa, Calley refletiu sobre o legado do massacre numa entrevista exclusiva à Associated Press, enquanto aguardava o veredicto.

"Não posso dizer que me orgulho de ter estado em My Lai ou de ter participado na guerra. Mas ficaria extremamente orgulhoso se My Lai mostrasse ao mundo o que é a guerra e que o mundo precisa de fazer alguma coisa para acabar com as guerras", afirmou.

Após cumprir a sentença, Calley casou-se e conseguiu emprego na joalharia do sogro em Columbus, Geórgia, e teve um filho.

Mais tarde, divorciou-se e mudou-se para Atlanta, onde evitou exposição pública e recusou sistematicamente pedidos de entrevistas.

Calley quebrou o silêncio em 2009, a pedido de um amigo, quando falou no Kiwanis Club em Columbus, perto de Fort Benning, onde tinha sido julgado em tribunal marcial.

"Não há um único dia em que eu não sinta remorsos pelo que aconteceu naquele dia em My Lai", disse Calley, de acordo com a publicação Columbus Ledger-Enquirer.

"Sinto remorsos pelos vietnamitas que foram mortos, pelas famílias, pelos soldados americanos envolvidos e pelas suas famílias. Lamento", afirmou.

Calley reiterou ainda que o erro que cometeu foi "ter cumprido ordens" e que o "superior hierárquico foi absolvido".

William Calley nasceu a 08 de junho de 1943 no sul da Florida, abandonou os estudos e trabalhou em restaurantes, foi paquete, maquinista de caminhos-de-ferro, vendedor e avaliador de seguros antes de se alistar no Exército em 1966.

Meses depois do massacre, durante a primeira incorporação, regressou a casa mas voltou a alistar-se para outra missão.

As estimativas de civis mortos durante a guerra terrestre dos Estados Unidos no Vietname, de 1965 a 1973, variam entre um milhão e dois milhões.

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