Sheikh Hasina, a "dama de ferro" do Bangladesh
A primeira-ministra do Bangladesh, Sheikh Hasina, que renunciou hoje face à ira popular, encarnou durante anos a esperança democrática para o país, contribuindo para a queda da ditadura militar nos anos 80, antes de adotar uma governação gradualmente autoritária.
© Mohammad Ponir Hossain
Mundo Bangladesh
Desde julho, tem enfrentado protestos em massa que começaram com manifestações contra as quotas de emprego na função pública e se transformaram numa das mais graves crises dos seus 15 anos de mandato, com os opositores a exigirem a sua demissão.
Hoje, uma multidão invadiu o palácio da primeira-ministra, que fugiu de helicóptero da capital Daca para um "local seguro" na Índia, segundo a sua comitiva, enquanto o chefe do exército anunciava na televisão que seria formado em breve um "governo provisório".
A dirigente de 76 anos, cuja história pessoal está indissociavelmente ligada à agitação do país, obteve um quinto mandato em janeiro, numa eleição controversa boicotada pela oposição.
Os seus críticos acusaram o seu Governo de uma série de violações dos direitos humanos, incluindo o assassinato de opositores.
Filha mais velha do xeque Mujibur Rahman, fundador do Bangladesh, que se tornou independente do Paquistão em 1971, Hasina está no poder desde 2009, após um primeiro mandato entre 1996 e 2001.
Sob a sua liderança, o país de 170 milhões de habitantes, outrora um dos mais pobres do mundo, registou uma forte expansão económica, graças, nomeadamente, ao desenvolvimento da indústria têxtil.
O Bangladesh registou um crescimento médio anual de mais de 6% desde 2009 e ultrapassou a Índia em termos de rendimento 'per capita' em 2021, apesar da persistência de grandes desigualdades. Cerca de 95% da população tem agora acesso à rede elétrica.
Em finais de 2023, e perante um novo mandato nos comandos do país, Hasina fez promessas políticas ambiciosas: "Transformaremos todo o Bangladesh num país desenvolvido e próspero".
Mas, 18 milhões de jovens bengalis continuam desempregados, segundo dados do Governo.
A comunidade internacional também se congratulou com a abertura do país em 2017, sob a sua liderança, a centenas de milhares de refugiados rohingya que fugiam dos massacres do vizinho Myanmar (antiga Birmânia).
Ao mesmo tempo, porém, quase todos os líderes do principal partido da oposição, o Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP), e milhares dos seus apoiantes, foram presos e a liberdade de expressão drasticamente restringida.
Em tempos, Hasina aliou-se ao BNP para combater uma ditadura militar.
Em 1975, com 27 anos, encontrava-se no estrangeiro com a irmã quando o pai, a mãe e os três irmãos foram assassinados em Daca durante o primeiro golpe militar.
Regressou do exílio na Índia em 1981 para assumir as rédeas da Liga Awami, o partido fundado pelo seu pai, e foi sujeita a frequentes períodos de prisão domiciliária.
Aliou-se então a Khaleda Zia, que se tornou chefe do BNP depois de o seu marido Ziaur Rahman, Presidente do Bangladesh, ter sido assassinado num novo golpe militar em 1981.
Unidas contra a ditadura militar de Hossain Mohammad Ershad, as duas mulheres e os seus partidos entraram numa rivalidade feroz quando a democracia regressou em 1991, ano em que Khaleda Zia foi eleita.
Sheikh Hasina sucedeu-lhe para um primeiro mandato à frente do país em 1996, mas perdeu as eleições em 2001.
As duas rivais políticas foram presas por "corrupção" em 2007, durante um novo golpe de Estado orquestrado pelo exército. Os seus processos foram arquivados e, no ano seguinte, Hasina venceu as eleições legislativas por uma larga margem.
Em 2018, Khaleda Zia foi condenada a 17 anos de prisão por corrupção.
Na última década, foram também executados cinco líderes islamitas de topo e uma figura da oposição, depois de terem sido condenados por crimes contra a humanidade cometidos durante a brutal guerra de libertação do país, em 1971.
Longe de sarar as feridas desse conflito, estes julgamentos deram origem a confrontos mortais, com os opositores a descrevê-los como uma farsa cujo principal objetivo foi silenciar os dissidentes.
Em 2021, os Estados Unidos impuseram sanções a um ramo de elite das forças de segurança do Bangladesh, o RAB, por repetidas violações dos direitos humanos.
Em novembro, a organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) afirmou ter provas de "desaparecimentos forçados, tortura e execuções extrajudiciais".
Em janeiro passado, Hasina assumiu um quarto mandato consecutivo, depois de ter ganho umas eleições que foram boicotadas pela oposição.
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