O antigo presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, reapareceu após ter fugido, novamente, às autoridades espanholas, depois de uma breve visita a Barcelona.
"Estou em Waterloo, depois de alguns dias extremamente difíceis. É necessário analisar a situação política e colocar em perspectiva a razão profunda da operação que tornou possível o que aconteceu ontem. E farei isso. Mas são milhares de quilómetros em pouquíssimos dias, de uma tensão difícil de explicar", escreveu Puigdemont no X (antigo Twitter).
Na mesma mensagem, admitiu que precisa "de algumas horas para descansar e tomar um pouco de ar".
Avui sóc a Waterloo després d'uns dies extremadament difícils. Cal analitzar la situació política i posar en perspectiva la raó profunda de l'operació que va fer possible el que va ocórrer ahir. I ho faré. Però són milers de quilòmetres en molt pocs dies i moltes jornades d'una…
— krls.eth / Carles Puigdemont (@KRLS) August 9, 2024
O independentista publicou um longo texto na rede social, criticando a "inefável" Secretaria do Interior da Generalitat, que "perpetrou uma das mais deploráveis conferências de imprensa".
"Não posso acreditar que a caça às bruxas que foi desencadeada contra algumas pessoas específicas, simplesmente porque foram vistas ao meu lado em certos momentos, estejam a ser encenadas a partir de esferas políticas que enchem a boca com luta antirrepressiva", criticou.
Dirigentes do partido de Puigdemont, o Juntos pela Catalunha (JxCat), tinham já assegurado hoje de manhã que o dirigente independentista já não se encontrava em Espanha e estava a regressar a Waterloo, cidade belga onde vive desde 2017, para fugir à justiça espanhola.
A polícia catalã afirmou a seguir não confiar nas declarações dos dirigentes do JxCat e disse que continuava a procurar Puigdemont dentro da Catalunha.
Pelo menos três membros dos Mossos d'Esquadra foram detidos pela própria polícia da Catalunha por suspeita de terem ajudado Puigdemont a chegar ao centro de Barcelona e depois a fugir sem ser detido, na quinta-feira.
O Supremo Tribunal de Espanha recusou, num primeiro parecer, conceder a amnistia para independentistas a Carles Puigdemont aprovada pelo parlamento espanhol, pelo que o antigo presidente do governo regional continua a ser alvo de um mandado de detenção em Espanha.
Apesar disso, conseguiu surgir na quinta-feira em público em Barcelona sem ser detido.
Depois de, a partir de um palco, se ter dirigido a mais de 3.000 pessoas concentradas numa praça do centro da cidade, o dirigente separatista desapareceu.
Eleito deputado nas eleições catalãs de 12 de maio, Puigdemont tinha anunciado que estaria na sessão parlamentar de quinta-feira convocada para investir o socialista Salvador Illa novo presidente do governo catalão.
A polícia tinha montado um perímetro de segurança em redor do parlamento, com uma barreira policial que Puigdemont teria de cruzar para aceder ao edifício, mas nunca chegou a esse local, onde se esperava que fosse detido.
Os Mossos d'Esquadra acionaram depois a "operação Jaula", um dispositivo de segurança, com controlo de estradas, para tentar localizá-lo, mas sem sucesso.
Na quinta-feira, e perante as críticas, os Mossos divulgaram um comunicado em que garantiram que tentaram deter Puigdemont nas ruas de Barcelona mas não conseguiram porque a prioridade foi evitar distúrbios, sublinhando que o político esteve sempre rodeado por milhares de pessoas e autoridades.
Numa conferência de imprensa hoje, o comissário-chefe dos Mossos d'Esquadra acusou Puigdemont de deslealdade com a polícia da Catalunha ao tentar usar a sua eventual detenção para desestabilizar a investidura de Salvador Illa.
Eduard Sallent admitiu que os Mossos não conseguiram prender Puigdemont "por mais que tentassem" e denunciou uma "verdadeira campanha de desinformação" por parte da comitiva do ex-presidente do Governo catalão sobre o seu regresso a Espanha.
De acordo com o responsável da polícia, os Mossos d'Esquadra acreditaram no que Puigdemont estava a anunciar há dias sobre as suas intenções de assistir à sessão parlamentar.
"É alguém que foi presidente da Generalitat, não é um Jodorovich ou uma pessoa que se dedica ao crime organizado", disse.
[Notícia atualizada às 22h38]
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