A segunda volta das eleições está marcada para 19 de agosto para todos os assentos parlamentares que não forem conquistados por maioria. Os resultados da primeira volta são esperados na quinta-feira.
A nação de atóis baixos com 120.000 habitantes é uma das mais ameaçadas do mundo pela subida do nível do mar e não possui a riqueza de recursos ou a marca turística de outras ilhas do Pacífico. Mas a sua proximidade com o Havai e a enorme extensão oceânica reforçaram a sua importância estratégica e provocaram um conflito de influências entre as potências ocidentais e Pequim.
O governo de Kiribati rompeu laços com Taiwan e passou a reconhecer Pequim como o único governo de toda a China, citando o seu interesse nacional e juntando-se a várias outras nações do Pacífico que cortaram laços diplomáticos com Taipé desde 2016.
Kiribati é uma das nações mais dependentes de ajuda internacional a nível mundial e está classificada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como um país em alto risco de endividamento externo.
A sua existência está ameaçada pela erosão costeira e pela subida do mar, que contaminaram a água potável e levaram grande parte da população para a ilha mais populosa, Tarawa do Sul.
A entrada bloqueada ou atrasada de funcionários australianos em Kiribati nos últimos anos e um fluxo de informação estagnado entre os governos provocaram ansiedade em Camberra sobre a escala da influência de Pequim no território.
"Muitos países da região estão realmente a tentar encontrar o seu lugar entre a atual intensa competição geoestratégica", disse Blake Johnson, analista do Instituto Australiano de Política Estratégica, citado pela agência norte-americana Associated Press (AP).
Kiribati "adotou a abordagem de manter as suas cartas bem fechadas" e não está a divulgar pormenores "que possam ter impacto na forma como essas relações estão a evoluir", referiu o analista.
A eleição de hoje decidirá 44 dos 45 lugares do parlamento local, mas não a presidência de Kiribati, que deverá ser decidida em outubro. Vai ser realizada uma votação pública para escolher o líder entre três ou quatro candidatos selecionados de entre os eleitos este mês.
O atual Presidente, Taneti Maamau, que está no cargo desde 2016, deverá tentar um novo mandato como líder.
O aumento do custo de vida, a escassez de medicamentos e a falta de combustível deverão ser questões centrais para os eleitores. Segundo os analistas, é provável que os eleitores recompensem o atual governo pela introdução do subsídio de desemprego universal.
As preocupações da Austrália incluem relatos de que Pequim treinou e equipou agentes da polícia de Kiribati e a suspensão de juízes estrangeiros que prestam serviço no país insular.
"É interessante notar que estes países ocidentais mantêm as suas próprias ligações com a China, mas quando os pequenos Estados insulares fazem o mesmo, de repente surgem preocupações", disse Takuia Uakeia, diretor do campus de Kiribati da Universidade do Pacífico Sul.
"Isto é bem compreendido pelas pessoas", destacou o académico.
Os partidos políticos são grupos livres em Kiribati e os legisladores não confirmam a sua fidelidade até serem eleitos para o cargo.
Kiribati era tradicionalmente uma sociedade governada por consenso, com fortes princípios democráticos e respeito pela sua Constituição, mas a disputa por influência por forças estrangeiras semeou divisões, apontou Rimon Rimon, jornalista independente residente no território insular.
Para o jornalista, a atual competição observada entre os doadores e os parceiros do território insular cria alguma incerteza sobre o futuro.
As eleições contaram com 115 candidatos, incluindo 18 mulheres. De acordo com a Radio New Zealand, os candidatos não tiveram oposição para quatro lugares, três dos quais eram deputados do Partido Tobwaan Kiribati, que está no poder.
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