O Comité de Investigação da Rússia (COR) concluiu que a morte do opositor russo Alexei Navalny foi causada por uma "combinação de doenças". A viúva Yulia Navalnaya já rejeitou a hipótese e revelou que vai avançar com uma investigação independente.
Num vídeo, divulgado no Youtube esta quinta-feira, Navalnaya publicou uma cópia de uma carta oficial do Comité de Investigação, que alegava que não havia circunstâncias criminais em torno da morte do opositor russo e, por isso, não havia motivos para abrir uma investigação.
A carta, segundo explica Navalnaya, foi assinada por Alexander Varapayev, o mesmo funcionário que se terá recusado a entregar o corpo de Navalny caso a viúva não concordasse em enterrá-lo em segredo.
O documento indica que o opositor, detido numa prisão de alta segurança no Ártico, foi vítima de uma doença súbita quanto passeava no pátio da penitenciária IK-3. Após o incidente, terá sido levado para uma unidade hospitalar, onde os médicos tentaram salvá-lo com "massagem cardíaca indireta e respiração artificial".
No entanto, para Yulia Navalnaya, as conclusões tratam-se de uma "mentira" e um "encobrimento" para o que disse ter sido um homicídio planeado pelo Kremlin.
"Sabemos muito bem que, quando Alexei adoeceu, não foi levado para a unidade médica, mas sim para a cela de castigo. Que estava a morrer ali, sozinho. Que foi levado para a unidade médica já inconsciente. Que, nos últimos minutos antes da sua morte, se queixou de dores agudas no estômago. Porque é que tudo isto não consta da resolução do Comité de Investigação?", questionou no vídeo, citada pela agência de notícias Reuters, sem, contudo, revelar como teve conhecimento da sequência de acontecimentos que descreveu.
Segundo a carta, a "combinação de doenças" incluía várias patologias, como hipertensão, pancreatite, danos nas vértebras e a presença do vírus do herpes nos pulmões e no baço, tendo a morte sido desencadeada por um aumento crítico da pressão sanguínea que perturbou o ritmo cardíaco.
"Digam-me, como é que descobriram esta arritmia durante a autópsia? Os distúrbios do ritmo cardíaco não podem ser determinados postumamente e, durante a sua vida, Alexei não teve qualquer doença cardíaca", frisou Navalanya, que questionou ainda "porque é que uma pessoa tão doente foi enviada para uma cela de punição e mantida lá por meses?"
A viúva pediu a abertura de um processo criminal e avançou que a Fundação Navalny irá abrir uma investigação independente, pedindo aos funcionários e agentes prisionais que contactem a sua equipa de forma confidencial e prometendo pagar por qualquer informação nova.
"Vamos continuar a investigar nós próprios", garantiu.
Sublinhe-se que Navalny, crítico declarado do regime do presidente russo Vladimir Putin e carismático defensor da luta contra a corrupção, morreu aos 47 anos em circunstâncias ainda pouco claras.
Os serviços prisionais disseram que sofreu um colapso súbito após uma caminhada na colónia penal do Ártico onde cumpria uma pena de 19 anos por extremismo e a certidão de óbito menciona causa natural.
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