O Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GSIM, na sigla em francês), filiado ao grupo extremista islâmico Al-Qaida, reivindicou a autoria do ataque, ocorrido no sábado, e disse que tinha tomado o "controlo total" do "quartel-general das milícias burquinenses" em Barsalogho.
O Coletivo Justiça por Barsalogho afirmou, entretanto, em comunicado a que a agência de notícias France-Presse (AFP) teve acesso na terça-feira, que os oficiais militares "usaram da ameaça para forçar a população local a participar em trabalhos contra a sua vontade" para "cavar uma vala à volta da cidade para servir de trincheira de combate contra os terroristas", a cerca de três quilómetros da cidade.
Dois vídeos, partilhados nas redes sociais e atribuídos por várias fontes ao GSIM, mostram os atacantes com fardas militares a disparar armas automáticas contra pilhas de corpos no meio do que parece ser uma trincheira a ser escavada.
As imagens mostram pelo menos 91 pessoas, todas vestidas à civil, algumas das quais ainda se movem enquanto são atingidas pelos disparos.
No início do ano, o chefe da junta que está no poder no Burkina Faso desde um golpe de Estado em 2022, o capitão Ibrahim Traoré, tinha pedido aos Voluntários para a Defesa da Pátria (nome dado aos auxiliares civis que combatem ao lado do exército), que "mobilizassem a população para cavar trincheiras", enquanto aguardavam o envio de máquinas.
O Coletivo Justiça para Barsalogho exige que se proceda a investigações "para que todos os responsáveis sejam responsabilizados" e pede ao governo que "declare os mortos mártires da nação" e que "conceda aos seus filhos o estatuto de filhos da nação".
No domingo, quatro ministros e o chefe do Estado-Maior do exército deslocaram-se a Barsalogho e a Kaya, a capital da região, para onde foram levados dezenas de feridos.
Théophile Naré, bispo de Kaya, lamentou a "tragédia de uma dimensão sem precedentes", desde o início dos "atentados terroristas", há quase dez anos.
Na terça-feira, a embaixada dos Estados Unidos em Ouagadougou apresentou as condolências às famílias das vítimas do que descreveu como "ataque terrorista".
Um dos membros do Coletivo Justiça para Barsalogho disse à AFP, sob condição de anonimato, por receio de possíveis represálias por parte do exército, ter participado no domingo no enterro em valas comuns de "mais de uma centena de corpos" em Barsalogho.
A mesma fonte referiu também ter perdido cinco membros da sua família no ataque.
Já uma fonte hospitalar de Kaya informou que tinham sido dadas instruções no sentido de proibir o pessoal médico de falar sobre o assunto.
Os familiares das vítimas que redigiram o comunicado declararam-se "estupefactos com a atitude do governo", que acusam de "falsificar os factos", e alegam que os reforços militares só chegaram no dia seguinte ao ataque, apesar de o exército ter afirmado que tinha lançado uma resposta logo no sábado.
Desde 2015, o Burkina Faso tem sido regularmente atingido por ataques de grupos extremistas, que mataram mais de 20.000 civis e militares, incluindo quase 3.800 este ano, de acordo com a organização não-governamental Acled, que regista as vítimas de conflitos em todo o mundo.
A ONU e a Human Rights Watch acusaram repetidamente as forças de segurança do Burkina Faso e os Voluntários para a defesa da Pátria de efetuarem execuções sumárias de um grande número de civis.
O líder do regime do Burkina Faso, o capitão Ibrahim Traoré, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em setembro de 2022, tinha prometido fazer da luta contra o "terrorismo" a sua "prioridade".
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