"Não posso classificar se estes ataques são demasiado sangrentos ou não, mas, por favor, quando vejo aqueles corpos de crianças mortas pela simples presunção de que [no local] se encontram [escondidos] alguns guerrilheiros... Bombardear uma escola é feio, muito feio", declarou o Papa.
"Diz-se que é uma guerra defensiva, mas às vezes acho que esta guerra é demasiado", acrescentou, sobre o conflito que Israel trava há quase um ano na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, depois de este ter realizado um ataque de dimensões sem precedentes em território israelita a 07 de outubro de 2023, fazendo 1.194 mortos, na maioria civis, e 251 reféns.
"Peço perdão por dizer isto, mas penso que não estão a ser dados os passos necessários para alcançar a paz", sublinhou, numa conferência de imprensa dada a bordo do avião que o transportava de Singapura de regresso a Roma.
Israel bombardeou na quarta-feira a escola Jauni, em Nuseirat, no centro de Gaza, fazendo pelo menos 18 mortos, seis dos quais eram trabalhadores da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês).
Sobre a mediação do Vaticano, o Papa asseverou que "a Santa Sé trabalha todos os dias" para conseguir deter a guerra e que ele mesmo telefona todos os dias para a paróquia de Gaza, cujo pároco é o argentino Gabriel Romanelli.
Ali se refugiaram cerca de 600 pessoas, cristãos e muçulmanos que "vivem como irmãos" e lhe contam "coisas muito feias e difíceis" por que estão a passar, revelou.
"Quem quer que ganhe esta guerra, no final encontrará uma grande derrota, porque a guerra é sempre uma derrota -- não devemos esquecer-nos disto", observou.
Acrescentou ainda que "tudo o que for feito pela paz é importante", agradecendo "tudo o que o rei Abdullah II da Jordânia, que é um bom homem, está a fazer pela paz".
A guerra, que hoje entrou no 347.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 41.130 mortos (quase 2% da população) e de 95.130 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo destes 11 meses de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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