Novos controlos nas fronteiras alemãs podem reforçar extrema-direita

Analistas admitem que o reforço de novos controlos nas fronteiras alemãs, que entram em vigor a partir de segunda-feira, pode fortalecer a extrema-direita, a poucos dias das eleições regionais de Brandeburgo, em 22 de setembro.

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© Philipp von Ditfurth/picture alliance via Getty Images

Lusa
14/09/2024 08:20 ‧ 14/09/2024 por Lusa

Mundo

Alemanha

A intenção do governo formado pela chamada 'coligação semáforo' é transmitir aos alemães que há uma preocupação crescente com a imigração ilegal, depois de uma série de ataques no país, mas a decisão de alargar o controlo a todas as nove fronteiras pode ter um efeito indesejado.

 

"Os partidos 'mainstream' esperam conseguir alguma credibilidade no que diz respeito às migrações e à chegada de imigrantes à Alemanha. Ao mesmo tempo, este é o tema que mais se associa à AfD [partido Alternativa para a Alemanha, extrema-direita], migrações, demasiados estrangeiros, um excesso de pedidos de asilo, estes são temas que a extrema-direita defende. Se continuam a falar consecutivamente destes assuntos, dizendo que é o mais importante da Alemanha, estão precisamente a fazer o trabalho da direita radical", sustenta o politólogo Aiko Wagner.

Estudos mostram que o tema das migrações representa a maior preocupação dos eleitores de Brandeburgo, que têm eleições marcadas para o dia 22 de setembro para escolher o seu parlamento.

"Isto até pode beneficiar a AfD. Por outro lado, há este sentimento em muitos pontos da Alemanha de Leste de que há demasiados imigrantes e requerentes de asilo e de que a Alemanha tem de fazer algo em relação a isso. É uma situação complicada e é difícil de prever o impacto que pode ter", acrescenta o analista político da Universidade Livre de Berlim.

De acordo com as últimas sondagens, a Alternativa para a Alemanha (AfD), vai à frente nos resultados com 27% a 29%, ultrapassando o partido do chanceler Olaf Scholz, o Partido Social Democrata (SPD).

O parlamento de Brandeburgo é atualmente governado pelo SPD, em coligação com os Verdes e a União Democrata Cristã (CDU). As eleições de dia 22 são consideradas uma prova de fogo para o SPD e para o próprio governo federal. Caso estes valores se verifiquem, a coligação liderada pelo socialista Olaf Scholz ficará ainda mais fragilizada depois das pesadas derrotas nas votações da Saxónia e da Turíngia.

A Alemanha anunciou no início da semana que os controlos em vigor na fronteira com a Áustria desde 2015, e desde o ano passado com a Polónia, a República Checa e a Suíça, seriam estendidos a partir da próxima segunda-feira a França, Luxemburgo, Bélgica, Países Baixos e Dinamarca.

A medida tem como objetivo travar a migração e "proteger o país contra os graves perigos colocados pelo terrorismo islâmico e pela criminalidade grave", sublinhou a ministra do Interior, Nancy Faeser.

A ministra alemã confirmou ainda que está a ser estudada a fórmula jurídica que permitirá no futuro realizar "rejeições massivas" de imigrantes irregulares no quadro jurídico da UE.

No entanto, na terça-feira, a reunião dos responsáveis do Governo, da oposição e dos Estados federados para enfrentar o desafio da imigração falhou, uma vez que os partidos não conseguiram chegar a acordo sobre quais as medidas a tomar. A CDU exigiu expulsões imediatas já na fronteira, o que, segundo o executivo, violaria o Direito alemão e comunitário.

No final de junho, um agente da polícia foi morto por um afegão, de 25 anos, em Mannheim. A 23 de agosto, três pessoas morreram, em Solingen, num ataque com faca reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico (EI), cometido por um sírio, de 26 anos, que deveria ter sido expulso do país.

Leia Também: Durão Barroso defende que Europa deve ter fronteiras externas seguras

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