Mulher morre após atrasos médicos devido à proibição do aborto nos EUA
Uma comissão do estado da Geórgia concluiu que a morte da mulher, de 28 anos, ocorreu devido a um atraso "evitável" na prestação de cuidados médicos.
© Joe Raedle/Getty Images
Mundo EUA
Uma mulher, de 28 anos, morreu durante uma cirurgia de emergência após ter desenvolvido uma complicação rara provocada por pílulas abortivas, no estado norte-americano da Geórgia. O caso aconteceu em 2022, mas foi agora divulgado pela organização de jornalismo de investigação ProPublica.
Segundo uma comissão oficial do estado da Geórgia, citada pela agência de notícias France-Presse (AFP), a morte de Amber Thurnan ocorreu devido a um atraso "evitável" na realização de um procedimento crítico e aconteceu logo após ter sido aprovada uma lei que tornava crime a Dilatação e Curetagem (D&C).
"Amber estaria viva neste momento se não fosse a proibição do aborto de Donald Trump e Brian Kemp", disse Tini Timmara, presidente da Reproductive Freedom for All, referindo-se ao ex-presidente republicano e ao governador da Geórgia.
"Eles têm sangue nas mãos", acusou.
Thurman era uma assistente médica saudável e mãe de um menino de seis anos, mas decidiu interromper uma gravidez de gémeos para preservar a sua "nova estabilidade", indicou a sua mulher amiga, Ricaria Baker, à ProPublica.
Tinha-se mudado com o filho recentemente para um novo apartamento e planeava inscrever-se numa escola de enfermagem. Decidiu então fazer um aborto cirúrgico, mas a proibição do aborto de seis semanas na Geórgia obrigou-a a procurar cuidados numa clínica na Carolina do Norte.
Os estados da Geórgia e da Carolina do Norte ficam a pelo menos seis horas de distância de carro e, no dia do procedimento, Amber perdeu o prazo de 15 minutos para a consulta devido ao trânsito.
A clínica ofereceu-lhe, então, um aborto medicamentoso com mifepristona e misoprostol, em que - apesar de ser extremamente seguro - podem ocorrer complicações raras.
Nos dias seguintes, o estado de saúde da mulher piorou e teve uma hemorragia intensa e vomitou sangue, tendo sido levada para o Piedmont Henry Hospital em Stockbridge, onde os médicos verificaram que não tinha sido expelido todo o tecido fetal do seu corpo e foi-lhe diagnosticada uma "sépsis aguda grave".
Apesar do seu estado de saúde, o hospital atrasou o procedimento de Dilatação e Curetagem de Thurman durante 17 horas. Durante a cirurgia de urgência, o médico verificou que era também necessária uma histerectomia, mas Amber acabou por sofrer uma paragem cardiorrespiratória.
Sublinhe-se que a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de revogar o direito federal ao aborto, em junho de 2022, desencadeou uma onde de proibições e restrições em 22 estados.
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