"O direito internacional humanitário proíbe o uso de dispositivos de armadilha na forma de objetos portáteis aparentemente inofensivos que são especificamente projetados e construídos para conter material explosivo", disse Volker Turk perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
"É um crime de guerra cometer violência com a intenção de espalhar o terror entre civis", acrescentou o alto comissário durante uma reunião solicitada pela Argélia após explosões simultâneas de aparelhos supostamente usados pelo grupo xiita libanês Hezbollah, como 'pagers' ou 'walkie-talkies, esta semana no Líbano e na Síria.
De acordo com a ONU, as explosões mataram pelo menos 37 pessoas, incluindo duas crianças, e feriram mais de 3.400 pessoas apenas no Líbano, deixando "muitas com deficiências permanentes e instalações de saúde a lutar para lidar com a magnitude do impacto sobre as pessoas".
Envolvidos num conflito fronteiriço desde o início da guerra em Gaza, em outubro passado, o movimento xiita libanês acusa Israel de estar por detrás destes incidentes. Telavive apenas comentou que acompanha a situação no país vizinho e não assumiu responsabilidade pelas explosões.
"Esses ataques representam um novo desenvolvimento na guerra, onde ferramentas de comunicação se tornam armas, explodindo simultaneamente em mercados, esquinas e casas, à medida que a vida quotidiana se desenrola. Autoridades supostamente desmontaram dispositivos não detonados em universidades, bancos e hospitais", observou Volker Turk.
Esse cenário desencadeou "medo, pânico e horror generalizados" entre os cidadãos no Líbano, que já sofrem uma situação cada vez mais volátil desde outubro do ano passado, com Turk a frisar que "este não pode ser o novo normal".
"A guerra tem regras (...), que têm o objetivo primordial de proteger efetivamente os civis. (...) O ataque simultâneo a milhares de indivíduos, sejam civis ou membros de grupos armados, sem conhecimento de quem estava de posse dos dispositivos visados, a sua localização e a sua envolvência no momento do ataque, viola o direito internacional dos direitos humanos e, conforme aplicável, o direito internacional humanitário", relembrou o representante da ONU.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos reforçou que se o atacante não for capaz de avaliar a conformidade do ataque com as regras do direito internacional, mais especificamente o provável impacto sobre os civis, "então o ataque não deve ser realizado".
"Deixam-me ser claro: esse método de guerra pode ser novo e desconhecido. Mas o direito internacional humanitário e de direitos humanos aplica-se independentemente e deve ser mantido", advogou, numa reunião em que estavam presentes representantes libaneses e israelitas.
Na mesma reunião, o ministro dos Negócios Estrangeiros libanês classificou Israel de "Estado pária" e avaliou que as explosões simultâneas de 'pagers' e outros dispositivos de comunicação no Líbano são "simplesmente terrorismo".
"Detonar remotamente dispositivos de comunicação de maneira coletiva, sem levar em conta aqueles que os usam ou aqueles que os rodeiam, é um método de guerra sem precedentes em brutalidade e terror, visando milhares de pessoas de diversas idades que estavam a cuidar da sua vida, das casas, nas ruas, no trabalho, nos centros comerciais, é simplesmente terrorismo", disse Abdallah Bou Habib ao Conselho de Segurança da ONU.
Já o embaixador israelita na ONU garantiu que Telavive "fará o que for necessário" para proteger os seus cidadãos e acusou o Governo libanês de "permitir que uma organização terrorista criasse um Estado dentro do seu Estado, levando ruína para seu próprio povo", referindo-se ainda ao Hezbollah como "fantoches dos iranianos".
[Notícia atualizada às 23h13]
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