"Estive quatro horas e meia e estaria o dobro para me despedir dele. Ele fez muito por nós", afirma, visivelmente emocionada Mariana, uma romana que pediu dias de férias para acompanhar as cerimónias fúnebres de Francisco.
"Sim, ele não era italiano, mas ele era romano. Porque compreendeu-nos. Porque ia aos cafés e falava com toda a gente...", desabafa, com os olhos ainda molhados, depois de se ter benzido defronte da urna aberta de Jorge Bergoglio, o jesuíta argentino feito Papa Francisco.
A afluência é mais elevada do que o esperado, as autoridades estimam em cem mil hoje, e muitos acabam por ficar nas zonas laterais da Igreja, após verem o corpo de Francisco, o que levou o Vaticano, em mais do que uma ocasião, a fechar o acesso ao templo a novos visitantes.
De modo ordeiro, com alguns grupos a rezar o terço, os fiéis vieram prestar o seu respeito ao Papa, que morreu na segunda-feira, exposto desde hoje até sábado na basílica da sede da Igreja Católica.
Em comum têm o comportamento quando se aproximam da urna, com a grande maioria a usar o telemóvel para filmar ou fotografar o momento.
"Acabei de partilhar para os meus amigos, no Instagram e no Tiktok. É importante porque nós todos gostávamos dele", disse Eliana, uma jovem de 17 anos, que não se incomodou por estar tanto tempo à espera.
"Eu não vim aqui por causa de filmar, mas porque eu queria-o muito, ok? Ele foi sempre especial e ainda sou católica por causa dele", resume.
Na fila para as confissões estava Salvador Seia, funcionário de uma empresa do Vaticano que quis resolver os seus problemas de fé nesta tarde.
"Há 40 anos que não me confessava, sempre achei que um dia tinha que o fazer. Foi hoje", disse.
Sobre Francisco, Salvador Seia considera que "foi o executor material da revolução inicial feita por Bento XVI".
"Ele foi a espada que Bento XVI não conseguiu erguer e por isso é que Ratzinger andou a tentar obter votos para Bergoglio no último conclave", disse.
"As pessoas pensam que eles são muito diferentes, mas não são assim tão diferentes. Ratzinger sabia que havia muita sujidade no Vaticano e ele não conseguia lutar porque viveu quase sempre cá", explica.
Agora, quanto ao seu sucessor, Salvador pede que seja escolhido uma "vassoura para acabar de limpar os problemas".
As exéquias irão terminar com a transferência da urna para a Basílica de Santa Maria Maior, onde será realizada a cerimónia de sepultamento, como havia sido pedido pelo Papa, com uma única inscrição: "Franciscus".
O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de AVC, após 12 anos de pontificado.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer. O papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março.
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