Kurti apelou à comunidade internacional para pressionar Belgrado a entregar os membros desse grupo que se refugiaram na Sérvia, lembrando o impasse de 12 horas num mosteiro ortodoxo sérvio em Banjska, 55 quilómetros a norte da capital, Pristina.
"A Sérvia é responsável e deve ser responsabilizada. O plano era dividir o Kosovo. O plano era anexar parte do seu território", disse Kurti.
O primeiro-ministro kosovar disse que o grupo paramilitar foi "orquestrado e financiado pela Sérvia" e que já tinha trazido para o Kosovo uma grande quantidade de armamento "para um conflito mais alargado e mais longo".
A polícia do Kosovo confiscou mais tarde cerca de 105 armas e mais de 80.000 cartuchos de munições. A Sérvia afirma que os atiradores agiram por conta própria.
Uma estrada para Banjska foi batizada com o nome Afrim Bunjaku, em homenagem ao agente da polícia morto.
No início deste mês, os procuradores do Kosovo apresentaram acusações de violação da ordem constitucional e legal, atividades terroristas, financiamento do terrorismo e branqueamento de capitais contra 45 pessoas, o que aumentou ainda mais as tensões entre a Sérvia e a sua antiga província separatista. As acusações implicam uma pena máxima de prisão perpétua.
Apenas três pessoas foram detidas, enquanto outras se encontram em liberdade e entre os acusados à revelia figura Milan Radoicic, um político e empresário com ligações ao partido populista no poder na Sérvia e ao Presidente Aleksandar Vucic.
No ano passado, a Sérvia deteve brevemente Radoicic após o tiroteio por suspeita de conspiração criminosa, posse ilegal de armas e explosivos e atos graves contra a segurança pública.
Radoicic negou as acusações, embora tenha admitido anteriormente que fazia parte do grupo paramilitar envolvido no tiroteio, e está também sujeito a sanções dos Estados Unidos e do Reino Unido devido à sua alegada atividade financeira criminosa.
A União Europeia (UE) e os Estados Unidos condenaram, então, o ataque e apelaram à Sérvia para entregar os atiradores.
O porta-voz da UE para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano, reiterou hoje o apelo para que os responsáveis sejam rapidamente julgados, afirmando tratar-se de uma chamada de atenção para a necessidade de manter a segurança e de fazer avançar a normalização das relações entre o Kosovo e a Sérvia.
O embaixador dos Estados Unidos no Kosovo, Jeffrey M. Hovenier, afirmou, por sua vez, que Washington "espera que os autores e todos os que estiveram envolvidos neste crime horrível sejam totalmente responsabilizados".
"A incapacidade de responsabilizar os culpados, apesar das claras confissões de culpa, prejudica a paz na região e envia uma mensagem perigosa. A justiça tem de ser feita. Acabaram-se os atrasos e as desculpas", declarou, por seu lado, a embaixada da Alemanha em Pristina num comunicado.
O Kosovo era uma província sérvia até que a campanha de bombardeamento de 78 dias da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em 1999, pôs fim a uma guerra entre as forças governamentais sérvias e os separatistas de etnia albanesa no território kosovar, que causou cerca de 13.000 mortos, principalmente de etnia albanesa, e expulsou as forças sérvias.
O Kosovo proclamou a independência em 2008.
Bruxelas e Washington estão a pressionar ambas as partes para que implementem os acordos que Vucic e Kurti alcançaram em fevereiro e março de 2023.
Estes incluem o compromisso do Kosovo de criar uma Associação dos Municípios de Maioria Sérvia. Espera-se também que a Sérvia cumpra o reconhecimento de facto do Kosovo, que Belgrado ainda considera uma província.
As forças de manutenção da paz internacionais lideradas pela NATO, conhecidas como KFOR, aumentaram a sua presença no Kosovo após os momentos de tensão do ano passado.
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