Israel avança contra o Líbano. Mas porquê? O que aconteceu? Explicamos
Israel anunciou que a incursão terrestre, que começou "há algumas horas", está a ser levada a cabo "com base em informações precisas contra alvos terroristas e infraestruturas do Hezbollah no sul do Líbano". No entanto, o grupo xiita negou que esteja em curso uma invasão e garantiu que não houve qualquer "confronto direto" entre os seus combatentes e o exército israelita. O que se sabe?
© Mohamed Azakir/Reuters
Mundo Médio Oriente
Desde o escalar do conflito entre o Hamas e Israel, a 7 de outubro do ano passado, que o Hezbollah se tem posicionado ao lado do movimento palestiniano, assegurando que não deixará de atacar aquele Estado até que um cessar-fogo seja alcançado. Entretanto, a guerra tomou novas proporções e alastrou-se para o Líbano. De facto, Israel intensificou a sua ofensiva contra a milícia xiita em meados deste mês e, em apenas 15 dias, eliminou grande parte da sua direção, entre eles o líder do movimento, Hassan Nasrallah. Agora, anunciou ter começado uma incursão terrestre. Mas porquê?
As Forças Armadas de Israel (IDF) confirmaram, na noite de segunda-feira, ter dado início a ataques terrestres "limitados, localizados e direcionados" contra "alvos terroristas e infraestruturas do Hezbollah no sul do Líbano", que "estão localizados em aldeias perto da fronteira e representam uma ameaça imediata para as comunidades israelitas no norte de Israel".
A incursão terrestre, que começou "há algumas horas", está a ser levada a cabo "com base em informações precisas contra alvos terroristas e infraestruturas do Hezbollah no sul do Líbano".
"As IDF estão a operar de acordo com um plano metódico estabelecido pelo Estado-Maior e pelo Comando do Norte, para o qual os militares das IDF treinaram e se prepararam nos últimos meses. As IDF continuam a operar para atingir os objetivos da guerra e estão a fazer tudo o que é necessário para defender os cidadãos de Israel e devolver os cidadãos do Norte de Israel às suas casas", destacaram ainda as forças israelitas, na mesma nota.
No entanto, o grupo xiita libanês negou que esteja em curso uma incursão terrestre israelita no sul do Líbano, como afirma Israel, e garantiu que não houve qualquer "confronto direto" entre os seus combatentes e o exército israelita.
"Todas as afirmações sionistas de que as forças de ocupação entraram no Líbano são falsas", disse o chefe do departamento de informação do Hezbollah, Mohammed Afifi, citado pelas agências internacionais.
O responsável garantiu que os combatentes do Hezbollah estão prontos "para um confronto direto com as forças inimigas que ousem ou tentem entrar no Líbano para lhes infligir baixas", tendo advertindo ainda que os disparos de mísseis de médio alcance contra o centro de Israel "é apenas o começo".
Israel entra na "próxima fase da guerra"
Antes, o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, já tinha insistido que Israel estava disposto a fazer tudo para travar os ataques do Hezbollah e devolver os deslocados ao norte, e alertou que "a "próxima fase da guerra começará em breve".
Gallant falava numa reunião com autarcas das comunidades fronteiriças do norte de Israel, a maioria das quais estão despovoadas há quase um ano, quando o Hezbollah começou a lançar foguetes e outros projéteis do sul do Líbano em solidariedade com o Hamas e os habitantes da Faixa de Gaza.
"A próxima fase da guerra contra o Hezbollah começará em breve. Será um fator importante na mudança da situação de segurança e permitir-nos-á completar a importante missão de devolver os residentes às suas casas", disse, referindo-se à maioria dos cerca de 60 mil israelitas deslocados.
Além disso, o porta-voz do Exército de Israel, Avichay Adraee, alertou os cidadãos libaneses a evitarem deslocações para junto ao rio Litani, sul do Líbano, onde estão a decorrer combates intensos com o grupo xiita.
"Estão a decorrer combates intensos no sul do Líbano, durante os quais os membros do Hezbollah estão a utilizar civis como escudos humanos para lançar ataques. Para vossa segurança, pedimos-vos que não desloquem veículos da zona norte para a zona a sul do rio Litani", escreveu o porta-voz militar israelita nas redes sociais.
Ainda assim, o exército libanês garantiu que não se retirou da fronteira com Israel, apesar de terem sido divulgadas informações nesse sentido. Ao invés, explicou que está apenas a reposicionar-se face aos ataques "cada vez mais bárbaros" do "inimigo israelita".
"As unidades militares destacadas no sul estão a proceder a um reposicionamento de alguns pontos de observação avançados", até porque "o inimigo israelita está a realizar ataques cada vez mais bárbaros contra várias regiões libanesas", afirmou o exército numa publicação na rede social X (Twitter).
Qual a posição dos Estados Unidos?
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, defendeu a "necessidade de desmantelar a infraestrutura de ataque" do movimento xiita, após Israel ter lançado ataques terrestres "limitados, localizados e direcionados" no sul do Líbano, na segunda-feira.
O responsável alertou ainda o Irão contra um possível "ataque militar direto contra Israel", sublinhando as "graves consequências" que isso implicaria para Teerão, de acordo com um comunicado de imprensa.
"Concordámos com a necessidade de desmantelar a infraestrutura de ataque ao longo da fronteira para garantir que o Hezbollah libanês não possa realizar ataques ao estilo de 7 de outubro contra comunidades no norte de Israel", disse Lloyd Austin.
Horas antes, o Pentágono anunciou que os Estados Unidos vão enviar "alguns milhares de soldados adicionais" para o Médio Oriente para reforçar a segurança e defender Israel, caso seja necessário.
Contudo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que "gostaria que Israel parasse" os planos de incursão terrestre no Líbano, tendo pedido um cessar-fogo.
"Estou mais consciente do que eles sabem e gostaria que parassem. Deveria haver um cessar-fogo agora", disse.
E o que dizem outros países?
O alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, afirmou hoje que Israel deve evitar "qualquer intervenção militar" no Líbano, uma vez que "agravaria" a situação no país, que "já é dramática".
O responsável acrescentou que os 27 governantes concordaram que Israel tem o direito à sua autodefesa, mas exortaram que tem de o fazer "em cumprimento do direito humanitário internacional".
"As armas devem ser silenciadas e a voz da diplomacia deve ser ouvida por todos. Os foguetes do Hezbollah devem parar e a soberania de Israel e do Líbano deve ser garantida", defendeu Borrell, que insistiu num cessar-fogo e na necessidade de evitar uma guerra total no Médio Oriente.
O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Lammy, partilhou de uma opinião semelhante, tendo sublinhado que o preço de uma guerra regional no Médio Oriente seria "enorme".
"Nenhum de nós quer regressar aos anos em que Israel se viu atolado em num pântano no sul do Líbano. Nenhum de nós quer ver uma guerra regional", disse.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia foi mais longe, tendo apontado que a ofensiva terrestre de Israel no Líbano é uma tentativa ilegal de ocupação que viola a integridade territorial libanesa, pelo que deve terminar "imediatamente".
Também a Rússia disse estar preocupada com a invasão do Líbano e com os ataques à capital síria, que "são destrutivos para a região e para as zonas circundantes".
"Estamos a testemunhar que a geografia das hostilidades está a expandir-se, o que está a desestabilizar ainda mais a região e a aumentar as tensões", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
A questão do Irão
O presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, prometeu que o Irão não abandonará o seu aliado libanês na luta com Israel, um dia depois de bombardeamentos israelitas no Líbano terem provocado quase 500 mortos, na semana passada.
"O Hezbollah não pode ficar sozinho contra um país que é defendido, apoiado e abastecido por países ocidentais, europeus e pelos Estados Unidos", afirmou Pezeshkian numa entrevista à televisão norte-americana CNN, citada pela agência francesa AFP.
No entanto, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani, argumentou, na segunda-feira, que "os governos do Líbano e da Palestina têm a capacidade e o poder de enfrentar a agressão do regime sionista e não há necessidade de enviar forças auxiliares ou voluntárias iranianas".
O responsável prometeu, ainda assim, que "o regime usurpador sionista não ficará sem repreensão e punição pelos crimes que cometeu contra o povo iraniano, as forças da Resistência [grupos pró-iranianos na região] e os cidadãos e soldados iranianos".
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