O caso envolve ainda um eurodeputado espanhol, Luis Pérez Fernández, conhecido como Alvise Pérez, que é líder do movimento de extrema-direita Acabou-se a Festa, criado pouco antes das eleições de junho passado para o Parlamento Europeu.
Alvise Pérez recebeu 100 mil euros do fundador e dono da Madeira Invest para promover publicamente a plataforma de investimentos, como ambos já reconheceram, com a justiça agora a investigar a possibilidade de se ter tratado de um financiamento eleitoral ilegal.
O eurodeputado assumiu também que não declarou este rendimento, num vídeo polémico publicado nas redes sociais em que apelou à fuga aos impostos e disse ter aceitado o dinheiro sem passar fatura "em legítima defesa contra o terrorismo fiscal do Estado".
Alvise Pérez justificou ainda que "todos os que dependem economicamente do poder se corrompem" e com este dinheiro reuniu fundos para não acabar por fazer o mesmo, ele próprio, agora que é eurodeputado.
A investigação à Madeira Invest - que funcionou durante um ano e meio num aparente "esquema de pirâmide" - foi aberta na sequência de queixas de associações de consumidores, a que um juiz deu hoje seguimento, numa decisão citada por diversos meios de comunicação social.
"O número de afetados poderia chegar aos 27.000 e o prejuízo que lhes foi causado poderia superar os 300 milhões de euros", escreveu o juiz.
Segundo o mesmo documento, "perspetiva-se uma investigação complexa, com uma rede criminosa de múltiplos veículos de fins específicos e ligações internacionais, com moradas em Portugal, Estados Unidos, República Dominicana, Estónia e Albânia".
A investigação, acrescentou o juiz, "obrigará a recorrer recorrentemente à emissão de instrumentos de cooperação jurídica internacional para determinar a natureza e as circunstâncias dos factos, as pessoas que neles participaram, bem como para localizar ativos financeiros".
A Madeira Invest tem sede social em Madrid e funcionava, sobretudo, na Internet.
Depois das primeiras notícias relacionadas com o eurodeputado Alvise Pérez, a plataforma fechou e deixou de funcionar há algumas semanas.
O dono da plataforma, Álvaro Morillo, conhecido nas redes sociais como Cryptospain, reconheceu a entrega de 100 mil euros ao eurodeputado, assumiu que deixou de poder garantir os rendimentos prometidos aos investidores e pôs-se à disposição da justiça.
A Madeira Invest prometia aos clientes rentabilidades de mais de 50% ao ano e pedia um depósito inicial de pelo menos 2.000 euros para a entrada na plataforma, que posteriormente seriam recompensados com transferências em criptomoedas.
A plataforma dizia dedicar-se a investimentos 'online' em mercados de luxo, como o da arte, e Álvaro Morillo promovia-se nas redes sociais como "perito em evasão fiscal".
Em maio de 2023, a Comissão Nacional do Mercado de Valores (CMVM) de Espanha já tinha feito um alerta em relação aos riscos desta plataforma de investimento.
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