"Emmanuel Macron não terá de suportar um debate no hemiciclo sobre o (seu) comportamento perigoso e errático" após as eleições legislativas, afirmou Mathilde Panot, líder dos deputados da LFI, maior força no seio da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), numa conferência de imprensa na Assembleia Nacional (câmara baixa do parlamento francês), após o anúncio da decisão dos presidentes dos grupos parlamentares franceses.
A proposta, apresentada por todos os deputados da LFI e por alguns comunistas e ecologistas (mas não pelos socialistas), já tinha sido rejeitada na semana passada pela comissão legislativa da Assembleia Nacional.
A proposta de destituição surgiu na sequência do chefe de Estado francês se recusar a nomear um governo da NFP após a coligação de esquerda ter vencido as eleições legislativas antecipadas (que decorreram em 30 de junho e 07 de julho), sem maioria absoluta, e com o propósito de denunciar um "golpe de forças" de Macron.
O Presidente francês acabaria por nomear, em setembro, Michel Barnier (centro-direita), o antigo negociador da União Europeia (UE) para o processo do 'Brexit' (saída britânica do bloco europeu), como primeiro-ministro de França.
Hoje, os presidentes dos partidos da coligação presidencial (MoDem e Horizontes) e da direita republicana opuseram-se ao texto, enquanto a líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen (RN) decidiu abster-se. Um possível voto favorável de Le Pen poderia ter alterado o resultado da votação.
Já os quatro grupos parlamentardes da coligação de esquerda, vencedores das eleições legislativas de julho sem maioria absoluta, "votaram a favor" deste debate no hemiciclo, pelo que, segundo argumentou Mathilde Panot, "foi (Marine) Le Pen que, de certa forma, salvou Macron de um processo de destituição".
Para a líder dos deputados da LFI esta foi a confirmação de que "a União Nacional (extrema-direita) não está na oposição ao governo de Michel Barnier e a Emmanuel Macron, mas sim é uma apólice de seguro de vida do sistema".
Esta decisão põe fim ao processo iniciado no início de setembro pela LFI, que "terminou o seu percurso", acrescentou a representante.
No entanto, as hipóteses de sucesso desta proposta eram praticamente nulas, uma vez que a destituição do Presidente francês exigia uma maioria de dois terços tanto na Assembleia como no Senado (câmara alta do parlamento), liderado pela direita e pelo centro.
Esta foi a primeira vez na Quinta República francesa que a proposta de destituição de um Presidente chegou à fase de ser analisada pela Conferência dos Presidentes dos grupos políticos.
O Governo minoritário do primeiro-ministro conservador Michel Barnier enfrenta hoje a discussão e votação da sua primeira moção de censura apresentada pela NFP na Assembleia Nacional.
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