EUA admitem "profunda preocupação" com ações de Israel em Gaza

Os Estados Unidos da América (EUA) admitiram hoje "profunda preocupação" com várias ações de Telavive na Faixa de Gaza, evidenciando uma mudança na retórica norte-americana de defesa incondicional de Israel face ao conflito no Médio Oriente.

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© Abood Abu Salama/Anadolu via Getty Images

Lusa
09/10/2024 22:44 ‧ 09/10/2024 por Lusa

Mundo

Médio Oriente

Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) convocada pela Argélia e pela Eslovénia, com o apoio da França, para abordar a situação humanitária em Gaza, a embaixadora norte-americana questionou a forma como Israel tem conduzido a sua guerra contra o Hamas no enclave palestiniano, especialmente em relação à crise humanitária, e apelou a Telavive que adotes "medidas urgentes" para mudar essa trajetória.

 

"Os EUA estão preocupados com a situação no norte de Gaza, incluindo o anúncio de Israel de uma nova ordem de evacuação para várias comunidades. Estamos particularmente preocupados que os civis palestinianos não tenham para onde ir", observou Linda Thomas-Greenfield.

"Já há relatos devastadores das condições miseráveis na zona humanitária no sul e centro de Gaza, para onde mais de 1,5 milhões de civis deslocados fugiram. Essas condições catastróficas foram previstas meses atrás e, no entanto, ainda não foram abordadas. Isso deve mudar, e agora. Apelamos a Israel para tomar medidas urgentes para fazê-lo", instou a diplomata.

A representante dos EUA - o maior aliado internacional de Israel - reiterou ainda a expectativa de Washington de que os civis palestinianos, incluindo aqueles evacuados do norte, tenham permissão para "regressar às suas comunidades e reconstruir".

A embaixadora aproveitou para defender que "não deve haver nenhuma mudança demográfica ou territorial na Faixa de Gaza", incluindo ações que reduzam o território do enclave.

"Colegas, também estamos preocupados com as ações recentes do Governo israelita para limitar a entrega de mercadorias em Gaza. Quando combinadas com novos limites burocráticos impostos a bens humanitários que chegam da Jordânia e ao encerramento da maioria das passagens de fronteira, essas restrições apenas intensificaram o sofrimento em Gaza. Precisamos de menos barreiras à entrega de ajuda, não mais", criticou.

Além disso, "estamos a acompanhar com profunda preocupação a proposta legislativa israelita que pode alterar o estatuto legal da à Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA)", afirmou Linda Thomas-Greenfield, num momento em que a UNRWA está prestes a ser declarada ilegal pelo parlamento israelita, após ter sido superado o primeiro procedimento parlamentar.

De acordo com a embaixadora, esta proposta legislativa dificulta a capacidade da UNRWA - considerada pela ONU "a espinha dorsal da resposta humanitária em Gaza" - de se comunicar com autoridades israelitas e removerá privilégios concedidos a organizações e pessoal da ONU em todo o mundo.

Ao assinalar um ano do ataque do Hamas a Israel, Thomas-Greenfield observou que, desde então, dezenas de milhares de civis foram mortos "num conflito que eles não começaram e que não podem travar", frisando que "já passou da hora de um acordo de cessar-fogo e de libertação dos reféns".

Apesar de serem cada vez mais frequentes as criticas dos Estados Unidos à forma como Israel conduz esta guerra no Médio Oriente, a Rússia recordou hoje que Washington já vetou por "cinco vezes a possibilidade do Conselho de Segurança tomar qualquer decisão substantiva a favor do fim do conflito na Faixa de Gaza".

"Cerca de 42 mil mortos, a maioria mulheres e crianças. O número de feridos e desaparecidos a aproximar-se dos 100 mil. Dois milhões de pessoas deslocadas internamente. Isto é o resultado da teimosia da liderança israelita e do patrocínio dos aliados americanos de Israel, que não permitem ao Conselho de Segurança pôr fim a este círculo vicioso de violência", afirmou o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya.

"Como resultado, o diálogo sobre uma trégua em Gaza encontra-se num impasse profundo, ninguém mais fala sobre a libertação dos restantes reféns (...) e a própria região enfrenta uma escalada no Líbano, além da perspetiva de uma guerra direta entre Israel e o Irão. Mas os nossos colegas americanos falam como se nada tivesse acontecido", acrescentou.

A reunião de hoje ficou também marcada pela intervenção do embaixador palestiniano, Riyad Mansour, que acusou os membros do Conselho de Segurança de não usarem as ferramentas que têm à sua disposição para fazer com que Israel implemente a resolução que ditou um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

"Vocês repetem-se, vocês dizem que deve haver um cessar-fogo, mas eles não vos ouvem, estão a ignorar-vos", disse, apontando para a delegação israelita, também presente na reunião.

"Porque é que vocês estão a gastar o vosso tempo nestas discussões? (...) Vocês falam, eles mexem no telemóvel e apenas vos ignoram. Vocês não estão a usar as ferramentas que têm disponíveis para fazê-los ouvir. Quem vos impede de impor e forçar a resolução para um cessar-fogo?", questionou Mansour, visivelmente indignado.

[Notícia atualizada às 23h43]

Leia Também: EUA avisam Israel que não aceitam uma nova Gaza no Líbano

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