Meteorologia

  • 17 OCTOBER 2024
Tempo
19º
MIN 15º MÁX 21º

EUA? Para muitos homens, uma mulher "não parece presidente"

A campanha para as eleições presidenciais norte-americanas de 5 de novembro é marcada por uma "enorme clivagem" entre géneros, com muitos homens a estranharem uma Presidente mulher, afirma a politóloga Anne-Marie Slaughter.

EUA? Para muitos homens, uma mulher "não parece presidente"
Notícias ao Minuto

17/10/24 08:19 ‧ Há 1 Hora por Lusa

Mundo Eleições EUA

Todos os 45 Presidentes eleitos na história dos Estados Unidos eram homens - incluindo o rival de Harris nestas eleições, o republicano Donald Trump - pelo que, para muitos homens, uma mulher "não parece Presidente", o que poderá ter um impacto nas suas escolhas no dia das eleições, disse Slaughter em entrevista à Lusa, em Lisboa.

 

Para a cientista política, isto deve-se em parte ao facto de "os homens sentirem que foram postos de lado, ou deixados para trás, ou que ninguém tem nada de bom a dizer sobre eles", questão que afeta homens em todas as comunidades.

Esta profunda questão de género é uma "reação a uma mudança muito rápida", pois "já ninguém se surpreende" ao ver uma mulher em qualquer lugar, seja no mundo do desporto ou no mundo dos negócios, pelo que "o mundo em que os homens pensavam estar, o mundo que pensavam ter herdado, o mundo que muitos deles pensam merecer não é o mundo que veem à sua volta e não gostam".

"Não é preciso pensar: 'Não quero uma mulher'", basta existir um sentimento de desconforto para que a "alavanca" seja puxada "para a pessoa com quem nos sentimos mais confortáveis", afirma Slaughter.

Anne-Marie Slaughter, que esteve em Portugal a convite da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, é uma cientista política, atualmente diretora-geral do "centro de investigação e ação" New America e foi a primeira mulher a ocupar o cargo de Diretora de Planeamento de Políticas no Departamento de Estado dos EUA, nomeada pela secretária de Estado Hillary Clinton, em 2009.

Slaughter foi ainda professora de Direito Internacional, Estrangeiro e Comparado de J. Sinclair Armstrong na Faculdade de Direito de Harvard e Presidente da Sociedade Americana de Direito Internacional.

Numa corrida em que as preocupações dos eleitores se espelham nas suas intenções de voto, uma sondagem publicada este mês pelo centro de estudos Pew Research Center aponta que 51% dos eleitores registados do sexo masculino apoiam Trump e 43% apoiam Harris, enquanto entre as eleitoras registadas a tendência é inversa: 52% das eleitoras registadas apoiam Harris e 43% apoiam Trump.

Para Slaughter, a principal preocupação das mulheres nestas eleições diz respeito ao aborto, num contexto de crescentes restrições.

"As mulheres estão muito conscientes do que podem perder, sendo o medo de perder algo muitas vezes mais motivador do que pensar que se pode ganhar algo", afirmou a cientista política.

A decisão do Supremo Tribunal norte-americano no caso Roe v. Wade (1973), declarando a constitucionalidade do direito ao aborto e anulando várias leis sobre a questão, nunca foi bem aceite pelos setores mais conservadores da sociedade e desencadeou um debate prolongado e intenso sobre a legalidade da interrupção voluntária da gravidez no país e quem deve ter o poder de decidir a sua legalidade.

Quase meio século após a decisão, o Supremo Tribunal anulou Roe v. Wade em 2022, pondo fim ao direito constitucional ao aborto, após a nomeação de juízes nos anos anteriores pelo então Presidente Donald Trump, agora candidato pelo Partido Republicano, que formaram uma maioria conservadora na mais alta instância judicial do país.

Atualmente, os Estados podem impor qualquer regulamentação sobre o aborto, desde que não entre em conflito com alguma lei federal. 

"A revogação de Roe v. Wade convenceu muitas mulheres de que podíamos, de facto, regredir de uma forma em que penso que muitas mulheres não acreditavam, especialmente as mais jovens", frisou Slaughter.

Leia Também: EUA atacam instalações dos rebeldes Hutis no Iémen

Recomendados para si

;
Campo obrigatório