"Neste momento de luto, os cineastas moçambicanos unem-se para lamentar e repudiar veementemente a sua trágica e injusta morte. Num período pós-eleitoral, é crucial lembrar que, independentemente das nossas opções políticas, o que nos move, enquanto classe, é o desejo pelo progresso e bem-estar da nossa sociedade", lê-se no comunicado da Associação Moçambicana de Cineastas (AMOCINE) a que a Lusa teve hoje acesso.
A polícia moçambicana confirmou no sábado, à Lusa, que a viatura em que seguiam Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), partido que apoia Mondlane, mortos a tiro, foi "emboscada".
O crime aconteceu na avenida Joaquim Chissano, centro da capital, e, segundo a polícia, uma mulher que seguia nos bancos traseiros da viatura foi igualmente atingida a tiro, tendo sido transportada para o hospital.
Paulo Guambe é descrito pela AMOCINE como um cineasta, dedicado ator, professor, argumentista e fotógrafo "reconhecido pela sua integridade e firmeza nas convicções", destacando-se que será lembrado pelo "seu trabalho e dedicação aos alunos".
"A pluralidade de opinião e a liberdade de expressão são o alimento da arte, essenciais para o seu florescimento, e pilares fundamentais no desenvolvimento social e a tolerância e o respeito por essas diferenças devem perdurar e ser acarinhados por todos", lê-se no comunicado de imprensa que destaca igualmente que Paulo Guambe foi exemplo na promoção da cultura e cinema moçambicano.
Por seu lado, a Associação dos Escritores de Moçambique (AEMO) condenou igualmente o assassínio de Elvino Dias e Paulo Guambe, alertando para a "onda de violência e convulsões sociais com consequências irreversíveis" no país.
"Provas credíveis devem ser apuradas pela polícia e apresentadas à justiça e a toda a sociedade de forma clara e transparente. Dessa forma, o respeito e credibilidade das forças policiais não poderão senão sair reforçados. Deste modo, estaremos a consolidar as instituições policiais e da justiça que são um baluarte da nossa cidadania", lê-se no comunicado.
"A nossa história está carregada de sangue, mortes e ódios fabricados durante anos. Precisamos de viver sem medo, sem mentira, sem mais violência. Temos de reconstituir a confiança nas instituições e nos processos que nos fazem ser uma nação, uma democracia e um povo que quer sair da miséria", acrescentam os escritores.
As eleições gerais de 9 de outubro incluíram as sétimas presidenciais em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) tem 15 dias para anunciar os resultados oficiais, data que se cumpre em 24 de outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, após concluir a análise, também, de eventuais recursos, mas sem prazo definido para esse efeito.
Leia Também: Notícias de violência em Moçambique são "bastante preocupantes", diz UE