Líder da junta do Myanmar parte para primeira viagem à China desde golpe
O líder da junta militar do Myanmar (antiga Birmânia), Min Aung Hlaing, partiu hoje para a China na sua primeira visita desde o golpe militar de 2021, que mergulhou o país num conflito que Pequim tem procurado mediar.
© Getty Images/STR/AFP
Mundo Myanmar
O general deixou hoje de manhã o Myanmar, de acordo com a rede de televisão MWD, detida pelo exército do país, para participar numa cimeira de cooperação económica entre os países por onde passa o Rio Mekong (China, Myanmar, Laos, Tailândia, Camboja e Vietname) na cidade de Kunming, na região de Yunnan, no sudoeste da China, nos dias 6 e 7 de novembro.
Esta é a primeira viagem à China e uma das poucas viagens ao estrangeiro do líder da junta, que também se deslocou à Rússia e à Indonésia pouco depois do golpe de 1 de fevereiro de 2021, para uma cimeira do Sudeste Asiático, para a qual foi posteriormente desconvidado.
Neste caso, a sua visita à China, que não condenou o golpe e que, tal como a Rússia, fornece armas ao Myanmar, reforça a legitimidade questionada de Min Aung Hlaing, numa altura em que o exército está enfraquecido por um movimento de guerrilheiros étnicos e pró-democracia.
A China, que enviará o primeiro-ministro Li Qiang à cimeira de Kunming, mas não está confirmado que se encontre com o general, minimizou a importância da visita, tendo o porta-voz da diplomacia chinesa sublinhado hoje apenas que o Myanmar é um "país importante na região" que tem participado "consistentemente" em tais reuniões.
No entanto, a visita surge num período de novas tentativas da China para garantir a estabilidade num país com o qual partilha mais de 2.200 quilómetros de fronteira e no qual tem vários projetos em andamento.
Em agosto passado, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, encontrou-se com o líder do golpe e instou-o a realizar "eleições inclusivas". Um mês depois, a junta do Myanmar apelou às guerrilhas étnicas e às forças pró-democracia para que negociassem uma via política para a realização de eleições, proposta que foi rejeitada e repetida em outubro.
Em janeiro passado, também em Kunming, Pequim serviu de mediador entre a junta e uma poderosa aliança de guerrilheiros, que lançou a maior ofensiva do ano passado contra o exército - Operação 1027 -- para um acordo de cessar-fogo que foi posteriormente violado.
A China adota geralmente uma abordagem pragmática em relação ao país volátil, mantendo laços tanto com os generais, sancionados por violações dos direitos humanos por vários países, como com os grupos rebeldes e pró-democracia para proteger os seus interesses, incluindo os oleodutos através dos quais transfere petróleo e gás para a província de Yunnan.
Mas os apelos de Pequim à realização de eleições, bem como a visita do general à China, não foram bem acolhidos pela oposição do Myanmar.
Kyaw Zaw, porta-voz do Governo de Unidade Nacional (GUN), composto em parte por antigos membros da legislatura derrubada pelos militares e que reivindica ser a autoridade legítima do Myanmar, instou a China a reconsiderar o seu convite a Min Aung Hlaing num vídeo publicado no Facebook.
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