Médicos marcharam em Maputo pedindo "parem de matar o nosso povo"

A pressão de algumas centenas de profissionais de saúde moçambicanos, liderados pelos médicos, gritando "parem de matar o nosso povo", concretizou hoje a primeira manifestação em Maputo desde a paralisação das atividades no âmbito da contestação aos resultados eleitorais.

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Lusa
05/11/2024 12:41 ‧ há 5 semanas por Lusa

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Anunciada inicialmente como uma "marcha pela saúde e pelos direitos humanos", logo cedo Napoleão Viola, presidente da Associação Médica de Moçambique (AMM), que acabou por liderar a manifestação, avisava do entendimento com a polícia para passar o protesto a uma concentração à porta da instituição por "motivos de segurança".

 

Perante a pressão de centenas de profissionais de saúde, que gritavam "queremos marcha", os manifestantes acabaram por seguir, primeiro, a pé, pacificamente, até ao Banco de Socorro do Hospital Central de Maputo, retornando e, em seguida, descendo a avenida Eduardo Mondlane e marchando até à estátua do histórico líder moçambicano, entre gritos de "socorro", "salvem Moçambique" e "parem de matar o nosso povo", enquanto centenas nos prédios e nos passeios aplaudiam.

Cerca das 12:00 locais (10:00 em Lisboa), já no caminho de regresso à sede da AMM, empunhando cartazes de contestação à violência pós-eleitoral e à repressão policial, sempre sem qualquer incidente ao longo de mais de duas horas, e perante a vigilância da polícia, estes profissionais gritavam: "Marchamos ou não marchamos?".

"Correu muito bem, na medida em que os objetivos foram atingidos. Primeiro passar uma mensagem de paz, de saúde e da necessidade de melhorar a questão da segurança pública, da não violência e do respeito pelos direitos humanos", afirmava, no final, Napoleão Viola.

"Segundo, conseguiu-se garantir que os colegas pudessem efetivamente, hoje, marchar com liberdade e com segurança e a polícia também conseguiu cumprir com o seu papel, também está de parabéns", acrescentava o líder da classe médica, numa marcha marcada por profissionais de bata branca e estetoscópios ao pescoço.

Esta foi a primeira manifestação, que descreveram como "apartidária", que se realizou sem intervenção da polícia -- que travou as anteriores com gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes - desde quinta-feira, quando iniciou o período de sete dias de paralisação geral e contestação pedidos pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, que deram a vitória (70,67%) a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975).

"É a grande lição que fica hoje, de que devemos ter a capacidade para ouvir a voz do povo. Ouvimos a voz do povo, associação ouviu, a polícia ouviu, e conseguimos garantir a segurança para todos e todos estamos felizes no final do dia", afirmava o presidente da AMM.

Durante o protesto de hoje, os médicos denunciaram que na violência dos últimos dias, nomeadamente em manifestações travadas pela polícia, pelo menos 108 pessoas foram baleadas e 16 morreram, estando os serviços de saúde sob pressão.

Fyasse, pediatra de 40 anos, garantia, ao longo da marcha, que a mensagem dos médicos moçambicanos passou: "Passamos aquilo que era o sentimento de todos os moçambicanos e principalmente nós, da área da saúde, que prezamos pela vida e pela saúde dos nossos pacientes".

Enquanto isso os colegas voltavam ao grito de protesto que marcou a marcha de hoje.

"Não matem o nosso povo, exatamente. Não matem o povo porque é uma violência. Basta", explicava o pediatra.

Iaqni de Sousa, médico de clínica geral de 30 anos, fez questão de mostrar nesta marcha "indignação" pelo que diz ser a "violação dos direitos humanos" e o "atentado à vida".

"Nós estamos a preservar a vida, esse é o nosso maior valor. É um direito fundamental para todos", atirava.

Ao lado, um estudante de medicina, que acabou de ingressar no curso, desabafava: "A polícia não tem simplesmente que tirar a vida a um ser humano".

Leia Também: Pelo menos 11 feridos em três dias de confrontos em Moçambique

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