Berri, designado como negociador do Líbano, manifestou surpresa face às notícias avançadas pela imprensa de que a viagem de Hochstein tinha sido suspensa, numa conversa com o diário Asharq al-Awsat.
Anteriormente, o primeiro-ministro interino do Líbano, Nayib Mikati, informou que Beirute tinha dado uma resposta "positiva" à proposta de cessar-fogo dos Estados Unidos, embora tenha sublinhado que ainda havia pontos a discutir antes da visita de Hochstein.
Mikati disse numa entrevista à al-Araby TV que a resposta foi "positiva, com algumas nuances".
"Há algumas coisas que não estão claras e queremos esclarecê-las para que não haja confusão no futuro", disse, acrescentando que uma discussão 'cara a cara' poderia acelerar as conversações.
Neste sentido, Mikati sublinhou que as autoridades libanesas esperam conseguir um cessar-fogo "o mais rapidamente possível" e reiterou o apoio de Beirute à aplicação da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que implica a retirada do Hezbollah, partido da milícia xiita, para o norte do rio Litani, situado a cerca de 30 quilómetros da fronteira com Israel.
Berri está a liderar as conversações com Hochstein sobre um possível cessar-fogo.
"Estou em contacto permanente com ele", afirmou, sublinhando a necessidade de pôr termo 'à destruição e ao derramamento de sangue' no país.
Os meios de comunicação libaneses informaram que a resposta afirmativa do Líbano inclui também o partido da milícia Hezbollah, o principal ator na guerra com as forças armadas israelitas.
Durante o dia, o deputado Simon Abou Ramia sublinhou que o governo libanês tinha "aprovado" a proposta dos Estados Unidos, palavras proferidas depois de se ter reunido com Mikati, segundo um comunicado publicado pelo gabinete do primeiro-ministro através da sua conta na rede social X.
O deputado salientou ainda a existência de "uma atmosfera muito positiva" e acrescentou que as autoridades aguardam com expectativa a visita de Hochstein e os seus encontros com Mikati e Berri para avançar para um cessar-fogo.
"Se não houver manobras ou má-fé, como estamos habituados com os israelitas, haverá um acordo positivo", afirmou.
Segundo um rascunho da proposta dos Estados Unidos publicado pela estação de televisão pública israelita Kan, o plano inclui um cessar-fogo e a aplicação integral da Resolução 1701, a criação de uma comissão internacional de controlo e o destacamento de cerca de 10.000 militares libaneses para a fronteira com Israel.
Israel, por seu lado, obteria o reconhecimento do seu direito a defender-se e de responder a qualquer ataque a partir de solo libanês, uma cláusula contestada tanto pelo Hezbollah como pelo governo libanês.
"O texto do acordo de cessar-fogo é bom, mas implica que Israel saia vencedor, pelo que poderá não ser aprovado", argumentou uma fonte libanesa citada pelo portal de notícias libanês al-Hadath.
"O Hezbollah acredita que a proposta dos Estados Unidos pode ser a base para um acordo, mas é necessária uma longa discussão", acrescentou, sublinhando que tal poderia começar com a visita de Hochstein.
O comité será presidido pelos Estados Unidos, mas contará também com a representação da Itália, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) e de vários outros países da região.
Israel desencadeou uma nova invasão do Líbano a 01 de outubro, após semanas de pesados bombardeamentos e ataques contra o país, incluindo a explosão coordenada de milhares de aparelhos de comunicação utilizados pelo grupo xiita libanês, após mais de 11 meses de combates com o Hezbollah na zona fronteiriça.
O Líbano registou quase 3.500 mortos desde o início das hostilidades, a 08 de outubro de 2023.
O recrudescimento das hostilidades faz parte dos combates que tiveram início há mais de um ano, depois de o Hezbollah ter atacado o território israelita no dia seguinte à incursão de 07 de outubro do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e de outras fações palestinianas.
Israel retaliou e desencadeou uma ofensiva sangrenta contra a Faixa de Gaza, onde já morreram mais de 43.800 pessoas, na maioria mulheres e crianças, segundo os dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
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