Benjamin Netanyahu respondia às acusações do antigo chefe do Shin Bet (serviços secretos internos israelitas), Yoram Cohen, que afirmou hoje que o primeiro-ministro tinha solicitado a vigilância de pessoas envolvidas num projeto de defesa "sensível".
"O primeiro-ministro procurou proteger um segredo de Estado vital, aceitou as recomendações do sistema jurídico, agiu de acordo com a lei e não violou os direitos de ninguém", afirmou o gabinete de Netanyahu num comunicado, sem negar as alegações de Cohen.
"A verdadeira ameaça à democracia em Israel não vem dos representantes eleitos, mas sim dos responsáveis pela aplicação da lei que se recusam a aceitar os direitos dos eleitores e tentam levar a cabo um golpe de Estado com investigações políticas desenfreadas", referiu o mesmo comunicado.
O líder do partido da oposição Unidade Nacional, Benny Gantz, afirmou, na rede social X, não estar surpreendido com as acusações de Cohen, que remontam a um incidente em 2018, quando Gantz ainda era chefe do Estado-Maior israelita.
"Lembro-me bem da atmosfera tóxica e suspeita que rodeava o primeiro-ministro durante o período de que falou o antigo chefe do Shin Bet", disse Gantz.
"O Estado de Israel merece um primeiro-ministro que se concentre na guerra contra o Irão e o terrorismo, e não na guerra contra o sistema de segurança", afirmou.
Este escândalo, entre outros, e leis controversas têm provocado cada vez mais divisões em Israel relativamente à governação de Netanyahu, que irá testemunhar a 10 de dezembro num processo de corrupção que se arrasta desde 2020, numa sala de audiências subterrânea fortificada em Telavive.
O principal porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, criticou na quarta-feira um projeto-lei, apoiado pelo Governo esta semana, que permitiria aos membros do exército e dos serviços secretos divulgar documentos confidenciais ao primeiro-ministro ou ao ministro da Defesa sem autorização.
"O exército não esconde informações da liderança política. O exército trabalha em conjunto com os dirigentes políticos para a defesa de Israel", disse Hagari numa conferência de imprensa, qualificando o projeto-lei, que passou na primeira votação de três no parlamento, de "perigoso" para a segurança do Estado.
O projeto-lei, apelidado de "Lei Feldstein", surge num contexto de uma batalha legal sobre o caso "BibiLeaks", no qual, Eli Feldstein, porta-voz de Netanyahu, e um oficial de reserva são acusados de conspirar na divulgação de material confidencial nos meios de comunicação social para encorajar a opinião pública contra um acordo de reféns com o Hamas.
O Supremo Tribunal de Israel ordenou hoje que os suspeitos permanecessem detidos até segunda-feira, altura em que anunciará a sua decisão final sobre o recurso da acusação contra a decisão de um tribunal de Telavive de manter Feldstein e o oficial de reserva em prisão domiciliária.
O chefe de gabinete de Netanyahu, Tzachi Braverman, foi também acusado de extorquir um vídeo comprometedor a um militar do gabinete do primeiro-ministro para que este alterasse as atas das reuniões que antecederam os atentados do Hamas de 07 de outubro, bem como as chamadas telefónicas efetuadas na manhã do ataque, segundo a imprensa israelita.
O movimento islamita palestiniano Hamas atacou o sul de Israel em 07 de outubro de 2023, causando cerca de 1.200 mortos e fazendo mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Desde então, a retaliação israelita já causou a morte de 44.580 em Gaza, a maioria civis, segundo os dados hoje divulgados pelo Ministério da Saúde do enclave palestiniano, tutelado pelo Hamas, considerados fiáveis pela ONU.
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