Num comunicado divulgado hoje a Organização Não-Governamental (ONG) internacional de defesa dos direitos humanos afirma no seu último relatório que "as Forças de Apoio Rápido e as milícias árabes aliadas cometeram numerosos abusos contra civis no condado de Habila, no estado sudanês do Cordofão do Sul, entre dezembro de 2023 e março de 2024, durante o conflito com as Forças Armadas Sudanesas [SAF] e o Movimento Popular de Libertação do Sudão-Norte".
E adianta que estes "abusos constituem crimes de guerra e incluíram assassínios, violações e raptos de residentes de etnia Nuba, bem como o saque e a destruição de casas", levando também "a deslocações em massa", o que transformou Habila e a vizinha Fayu, ambas no estado sudanês do Cordofão do Sul, a tornarem-se "cidades fantasma".
"Os ataques a residentes de etnia Nuba, que não foram amplamente divulgados, constituem crimes de guerra", frisou.
Os combatentes das RSF atacaram a cidade de Habila, controlada pelas SAF, em 31 de dezembro de 2023. E, segundo a ONG, nesse dia e nos dias seguintes "mataram pelo menos 35 civis e combatentes desarmados em ataques deliberados e indiscriminados, feriram outros civis e violaram mulheres e raparigas", além de saquearem "extensivamente os civis".
Por isso, a HRW defende que as Nações Unidas e a União Africana devem "tomar medidas" e enviar "urgentemente uma missão" para proteger os civis no Sudão.
"Os abusos cometidos pelas Forças de Apoio Rápido contra civis no Cordofão do Sul são emblemáticos das atrocidades que continuam a ser cometidas em todo o Sudão", disse Jean-Baptiste Gallopin, investigador sénior da Human Rights Watch para crises e conflitos, citado no comunicado.
Os investigadores da ONG entrevistaram 70 pessoas deslocadas, 40 das quais sobreviventes dos ataques das RSF a Habila, Fayu e aldeias vizinhas, e analisaram imagens de satélite da área entre dezembro de 2023 e outubro de 2024. Os investigadores também falaram com 24 outras pessoas, incluindo trabalhadores humanitários, responsáveis locais e outras pessoas com conhecimento da área.
E "documentou o assassínio de 56 pessoas desarmadas nesses ataques, incluindo 11 mulheres e uma criança, com base em entrevistas com testemunhas".
A HRW também documentou "a violação de 79 mulheres e raparigas, incluindo no contexto de escravatura sexual", com base em entrevistas com sobreviventes, testemunhas e familiares e amigos das vítimas.
Em 25 de novembro, a Human Rights Watch enviou um resumo detalhado por e-mail destas descobertas com perguntas específicas ao tenente-coronel Al-Fateh Qurashi, porta-voz das RSF, mas não recebeu uma resposta.
Desde o início do conflito entre as SAF e as RSF, em abril de 2023, a Human Rights Watch já documentou anteriormente graves abusos cometidos pelas RSF e por milícias aliadas noutros locais do Sudão, incluindo crimes de guerra e crimes contra a humanidade, como parte de uma campanha de limpeza étnica no Darfur Ocidental.
Num relatório de 28 de outubro de 2024 ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, que fazia recomendações para a proteção dos civis, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reconheceu que os civis sudaneses e os grupos locais e internacionais de defesa dos direitos humanos apelavam à criação de uma missão de proteção, mas não propôs a forma como esta poderia ser implementada, refere a ONG no comunicado.
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