Carter via assalto ao Capitólio como tragédia e risco para democracia

O ex-Presidente norte-americano Jimmy Carter, falecido no domingo aos 100 anos, teve como uma das suas últimas causas denunciar os riscos para a democracia inerentes ao assalto ao Capitólio por apoiantes de Donald Trump, reeleito em novembro.

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Lusa
31/12/2024 09:28 ‧ há 2 dias por Lusa

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EUA

A 06 de janeiro de 2021, no dia em que uma multidão violenta assaltou o Capitólio, Jimmy Carter, que sempre se manteve ativo política e diplomaticamente depois de deixar a Casa Branca em 1981, emitiu um comunicado considerando que o ataque era uma "tragédia nacional" que não representava os Estados Unidos enquanto nação. 

 

Mas um ano depois, no primeiro aniversário do ataque, Carter percebeu que a situação não tinha melhorado e escreveu um ensaio no qual avisou que a democracia norte-americana estava em grave perigo. Foram as palavras mais duras e sombrias de um ex-Presidente dos Estados Unidos num dos momentos mais polarizados da história do país. 

"A nossa grande nação oscila agora à beira de um abismo cada vez maior", escreveu Jimmy Carter, no ensaio para o New York Times. "Sem ação imediata, estamos em risco genuíno de conflito civil e de perder a nossa preciosa democracia". 

Presidente entre 1977 e 1981, fundou o Carter Center depois de sair da Casa Branca e liderou dezenas de missões de observação de eleições em África, América Latina e Ásia, começando pelo Panamá em 1989. 

Viu como novos sistemas democráticos, e nalguns casos outros já estabelecidos, eram vulneráveis a tomadas do poder por juntas militares ou déspotas.

O que o ex-Presidente nunca esperou foi ver o mesmo tipo de acusações, violência e desinformação na democracia norte-americana. 

"Para que a democracia americana perdure, temos de exigir que os nossos líderes e candidatos defendam os ideais da liberdade e adiram a elevados padrões de conduta", escreveu, sem nomear Trump. 

Carter já não foi a tempo de ver se há salvação para a democracia dos EUA. O democrata morreu a 29 de dezembro aos 100 anos, depois de ano e meio em cuidados paliativos.

Em setembro, o neto Jason Carter disse que o ex-Presidente estava a agarrar-se à vida para poder ainda votar em Kamala Harris. E votou, mas viu Donald Trump bater a candidata e ser eleito para um segundo mandato - apesar do seu papel no assalto ao Capitólio lhe ter valido um processo de destituição. 

A vitória de Trump era algo que Carter temia. Em 2019, disse que a reeleição de Trump seria "um desastre", depois de ter causado controvérsia por afirmar que a interferência russa nas eleições de 2016 ajudou a colocar o republicano na Casa Branca. 

Foi aí que se iniciou, de forma aberta, a contenda entre Carter e Trump, que nos últimos anos usou várias oportunidades para criticar o antecessor democrata. No seu 100º aniversário, enquanto andava em campanha, Trump disse que Carter devia estar muito feliz porque, em comparação com Joe Biden, a sua presidência era agora considerada brilhante. 

Debilitado pela idade e por melanoma, que se espalhou por vários órgãos, Jimmy Carter afastou-se do comentário e da vida pública depois de escrever o ensaio para o New York Times. As suas palavras tiveram, no entanto, um efeito que perdura. 

Ao assinalar o quarto aniversário do ataque ao Capitólio, que levou à morte de várias pessoas, centenas de feridos e milhares de acusações judiciais, o país prepara-se para o regresso do Presidente que alegadamente instigou esse assalto à Casa Branca. 

Dias antes da inauguração, que está marcada para 20 de janeiro em Washington, D.C., ainda será Joe Biden a presidir às cerimónias de homenagem a Jimmy Carter, um Presidente de um só mandato cujo legado na presidência acabou por durar mais que os quatro anos em que ocupou o cargo.

Leia Também: Republicanos querem processar Liz Cheney por investigar Trump

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